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A igreja estava quase cheia. A expectativa dos presentes, como de
costume.
— Qual é nome do
garotão? O padre indagou apontando um jarro com água em direção à cabeça do
menino nos braços de uma jovem mulher.
O homem do lado tentou responder, deu branco. A mulher com a criança no
colo insinuou uma palavra, mas se escondeu na insegurança. Era um batismo, não
uma competição do soletrando.
— IVAGGNNOR! Adiantou-se a mãe dizendo, percebendo o embaraço dos
envolvidos. – IVAGGNNOR! Disse com o orgulho de quem cria uma coisa nova. Nem
Thomas Edison quando inventou o Fonógrafo teve a mesma expressão.
O padre recolheu a mão que ameaçava despejar a água quando ouviu.
Suspirou. Estava quase acostumando com a nova geração. Ele conheceu a geração
dos “Josés” e dos “Joões.” Nomes têm momentos.
Os dias de hoje, seria Neymar? A mídia não registra nem batiza, mas
influencia na criatividade. O sacerdote se guardou num silêncio quase budista.
A igreja entendeu. Gosto não se discute, nem se interfere.
— O nome? Disse depois de voltar a si.
— Sim. É IVAGGNNOR. – Respirou. – É: I... V... A... dois “Gês mudos,”
dois enes, um ô e um erre no final. Soletrou. Explicou as letras e comentou.
Queria um nome diferente para o filho.
O pai cerrou os olhos. Coçou a orelha direita, quis se esconder, mas
amava a esposa. Estava feliz por ser pai, suportou a vergonha.
Juramar, o pai, pensou no outro dia. Um ontem cheio de invariáveis. Vinha
de uma grande família de nomes estranhos. Tinha uma resposta convincente quando
questionado: “Coisas do meu Pai!”
Entristeceu quando lembrou o nome dos seus irmãos: Jumairzo, Jumerzildo,
Jumirnaldo e sua irmã, Jumaríndia. Todos deram um pitaco para o nome do seu
filho. “Ta difícil! Ontem o cartório que recusou esse nome, agora também o
padre?” Questionou em sua alma.
O padre entendeu a situação do pai e, como estava acostumado com o
ofício, entornou o jarro que estava em suas mãos. A criança começou a chorar e
esperneando bateu com o pequeno pé no jarro. Acho que não recusando a água, mas
o nome. Criança não pensa, mas se pudesse escolher o próprio nome, diminuiria o
Bullying na escola quando crescido. A água espalhou molhando os pés do padre. A
mãe envergonhou-se pela água derramada e pela incompreensão de um nome tão
bonito. “Gosto é gosto, e para mim, opinião é uma questão de opinião”, disse a
mãe num sussurro ameaçador à madrinha, que sorriu concordando. Para não haver transtorno,
decidiu chamar o afilhado de Vaguinho.
— Chora não, Vaguinho! – Disse a madrinha erguendo o menino no alto.
O pai ouviu. O pai gostou. O padre ouviu e gostou. A mãe, não. Mas a
criança parou de chorar. Coincidência? Não é coisa boa ser um humano. Tudo é
escolhido por outros. Um homem escolhe uma mulher ou uma mulher escolhe um
homem. Ambos escolhem um momento, que escolhem um lugar. Como a paixão nos dias
de hoje brota das cinturas, uma criança que não escolhe nada, nasce depois de
um tempo. O seu nome? É escolhido por alguém. A comida, a cama, as roupas, as
diversões, os brinquedos? A escola, as matérias, os colegas? Escolhidos por
alguém.
Posso assistir a um filme que não é escolhido por alguém? Alguém escolheu
fazer um filme e escolheu o tempo para passar esse filme. Depois que nos
tornamos adultos ainda vêm os políticos e escolhem por nós as leis que nos...
O batismo fora interrompido por alguns instantes. O Menino era Ivaggnnor,
mas ganhara um bom apelido: Vaguinho. Parecia nome de jogador de futebol ou
nome de cantor de pagode. Parecia o nome mais certo para o momento.
Volta à cerimônia.
— Por que esse nome?
— Achei bonito.
— Você gosta do seu filho?
— Padre, eu sou a mãe.
— Eu sei.
Silêncio. A cerimônia ganhou ares estranhos.
— Como é o seu nome?
— Jessica.
— Penso nas crianças de hoje. – O padre seguiu com a Homilia. – Os pais
não se preocupam com os nomes dos filhos. Acho que é porque também não pensam
no futuro deles. Assim como têm criatividade em ajuntar letras para compor um
nome, também são criativos para fugir das responsabilidades.
O padre disse. Ele e somente ele podia dizer. O nome era estranho, mas se
não batizasse o garoto, o quê iriam dizer do padre Astrogésilo Freitas? Padre Freitas estava ali para rezar a missa e
fazer batismos, não para questionar os nomes.
Uau, mano. Sua escrita está perfeita! Parabéns pelo blog. Só vai ter seguidores inteligentes... rs.
ResponderExcluirAbraços.
Obrigado pastor!
ResponderExcluirÉ verdade hein. Parabéns pelo progresso, vejo que agora ninguem segura esse artista geuíno que vc é! rsrsrs Glórias a Deus.
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