Preciso saber quando é hora de
acordar. Preciso saber quando é hora de dormir. E no espaço que há entre esses
dois verbos, preciso saber conviver comigo. Três verbos ardem no coração:
preciso, saber e ficar. Então deduzo: preciso saber quando é hora de acordar e
quando é hora de dormir. Nesse interstício simbolizado por uma letra “e”
descubro que preciso saber ficar comigo. Nesse espaço há silêncios que eu
desrespeito, há barulhos que eu desconheço. Ouço tantas coisas. É nessas tantas
coisas que vejo meu coração elusivo aos desejos. Por precaução e bom senso,
escolho guardar as coisas que são boas, mas que depois de um tempo ficam ruins.
Por quê? O tempo delas passa. Tudo se
descamba ao nada amigo. Como as minhas indagações. Depois que encontro as respostas,
vou à busca de novas compreensões, incompreendidas.
Preciso saber interpretar os
silêncios. Dentro do silêncio há um silêncio clamando barulhos. Dentro do
barulho há uma balbúrdia invocando silêncio. Há um desencontro que se encontra
sem rasura, e com mesuras, aprecia o contrário. Um viver que vive e vivendo se
rende aos seus próprios sinais. Invoca o sim e o não. O sim nasceu para ser um
sim, mas no caminho se questiona por não ter sido um não. O não nunca diz não
quando as coisas são ao seu favor, mas pelos caminhos também deseja ser um sim.
Pensando nas coisas que são inversas, negar um não é o mesmo que dizer um sim.
Escolhemos as palavras para dizer, amigo, mas são as atitudes que falam às
claras. São as coisas, meu amigo. São as coisas, mas que coisas? Essas que
invadem nossos silêncios e por caminhos não
imaginados levam às nossas pretensões. Quer saber? Antes que o tempo passe,
preciso saber quando é hora de acordar. Preciso saber quando é hora de dormir.
E nesse espaço que há entre os dois verbos, preciso aprender a permanecer
comigo. Já distanciei demais nas estradas que dispersam a vida.
Preciso saber quando é hora de
acordar, pois quando chegar o outro momento terei certeza de um sono bom. Agora
falo, meu amigo, de um despertar físico, de um abrir de olhos, de um ver que me induz às coisas certas. Aqui
eu sei que uso a repetição dos verbos, e é repetindo eles que me despeço.
Preciso, saber, acordar. Preciso,
saber, dormir. Preciso de tantas
coisas, mas os dias correm e são como as águas de um rio. As coisas são muitas.
Pensando nos dias que não esperam minhas esperas, na indecisão me escracho.
Sofrem os meus desejos. Sofrem por não saber desejar uma só coisa. É nessa
altura que misturo o sim ao não, pois, de tanto precisar, esqueci de precisar
ficar comigo. No espaço que há entre dois verbos, preciso aprender para me
ensinar a conviver comigo.