terça-feira, 19 de março de 2013

MAYBE YOU LIKE



Maybe you like the same things different, seeking the difference. Maybe you like the difference, but without realizing it, is simply equal. Perhaps you are afraid of love. Maybe you're afraid of pain. You may be afraid of life. You may not know, who never feared the unexpected? Maybe you like to be as you are, but longs to be different ...
It is perhaps, not bothering with the simplicity you be afraid to be happy. Maybe you like, do not like is prohibited.
Maybe you like to wake up early, wait for the sunrise, or maybe you just like to look in the mirror and see a different face, knowing it is yours and that by the end of the day will have the normal traits. Maybe you like to wake up late and just let the day pass. Go through the room. Go through the bed. Pass you by. Pass the habit of passing. Maybe you like, it is not forbidden to pass.
Maybe you like the cloudy, rainy days or sunny. Maybe you like a simple sky without clouds, with blue all for you. Perhaps you would like to share it with others. Maybe you like is the same dark skies, and without realizing it, looking people there.
Maybe you like the roads in straight lines, curves or mysteries. Maybe you like is not even see the roads, is delighted with the flowers along roadsides, not yearn for the arrival. Maybe you like to get unintentionally leave. [1] leave, and never want to get. Maybe you like it is from. From. From. From.
Maybe you like the songs that invade your time, take you away, take you to the future, I return to the past ... Maybe you like the past, and casually, it hides the future. Maybe you like it is the songs that bring you to the present and promote a meeting with yourself. Is that perhaps a song is everything. That's all a hug. A kiss is everything. One ticket is all. That's all a laugh and, without realizing it, live it all.
Perhaps you enjoy yourself. Maybe you like the doubt. Who never doubted himself?
Maybe you like the mornings when the sun fills you with smiles and encouragement. Or the cold days that fill you of laziness. It is not forbidden to have lazy briefly. Maybe you like the days are the same. Maybe you like the normal days. Is that normal days bring to us normal people, normal news, normal dreams. Maybe you like the normal dreams. When everything is normal, not normal.
Perhaps you would like to hasten the time. Plans to rush, rush of the deceptions, the rush of living. Is that perhaps you'd like to rush the happiness. Maybe you enjoy playing words. Maybe you like to put your hand in consciousness. Maybe you like to want to be happy. It is not forbidden to be happy. You may not know:
We have to be happy in such a hurry that we do not stop to listen to intelligence.
You may "not" like what I said at the end, but I needed to say. Maybe you like. Maybe ...

[1] Quoted by Father Fabio de Melo: My feet want to go, my body wants arrival.

quinta-feira, 7 de março de 2013

O RIO QUE PASSAVA ENTRE NÓS





Quando o avião pousou, ela esperou encontrar no aeroporto um homem mais velho. Com o olhar de um policial fazendo perguntas, mediu-o de cima a baixo.
— Voo tranquilo?
— Que nada, avião pequeno, meia hora no ar parece uma eternidade.
— É, ele sacoleja, mas nos traz inteiros ao chão. Apenas as pernas vibrando, não sei se de alegria ou de medo mesmo. – Ele falava e com um meio sorriso encarava a moça. – O nosso águia de fogo aí tem medo de nuvens escuras, não pode ver uma que já treme todo. – Ele falou sacolejando as mãos.
Ela sorriu, sabendo que teria que conviver com a pequena aeronave pelos próximos dias. A voz que ouvira pelo telefone possuía a rouquidão que ela presenciava. Qual deles era ele?  O rapaz carregava em si o aspecto de quem há muitos dias tinha a barba por fazer, cabia bem dentro de uma calça jeans e de uma camiseta regata. O Bon Jovi escrito na camiseta afastou dos seus pensamentos a palavra “caipira”.
A cidade com suas casas semelhantes, apenas algumas não possuíam telhas de barro. As ruas desertas; no centro, movimentos. Alguns prédios concluídos, outros em construção davam aos pensamentos uma nova imagem. Não parecia ser aquele lugar onde brincou quando era criança. O prefeito se preocupava com a estética da cidade e trabalhava duro para que não houvesse um crescimento desordenado. A cidade havia crescido. Quando os seus pais venderam a fazenda, vieram morar ali. Alguns anos atrás, Santa Luz não passava de uma pequena vila. Devido à construção da usina na região, muitas pessoas foram atraídas para aquele lugar. O comércio se expandira de tal forma que os municípios vizinhos se serviam de toda novidade de última geração imposta aos comércios. Não era uma grande metrópole, era Santa Luz, uma vila que crescera em vinte anos.   
— Vai ficar poucos dias?
— Se eu gostar, ficarei um pouco mais...  Por... ?!?!
— Pouca bagagem. – Disse girando o corpo e ajeitando as malas no banco de trás.
— Aqui é o meu lugar... Sempre que penso, quero voltar. – Disse ainda presa na imagem que fazia da antiga cidade. As coisas mudam. As pessoas mudam e o tempo é testemunha dos acontecimentos. Será que alguém nos arredores da vida anota tudo que passamos?
— E voltou... Ufa! – Disse ligando o motor e interrompendo os pensamentos dela.
O silêncio invadiu a cabine da picape vermelha. Depois que deixaram o aeroporto, seguiram cerca de quinze minutos por uma via com o asfalto ainda sem terminar. Os campos estavam limpos dos dois lados da estrada. Depois que passaram por um pequeno bosque e avistaram a cidade, ele diminuiu as marchas e foram lentamente por entre as ruas, mas antes de chegar ao centro, virou à direita. Ela reconheceu a rua em que havia morado. Cada vez que o carro avançava, por cada casa, sentia o seu coração deslizando em lembranças. Ele, percebendo, nada dizia, talvez esperando que ela sentisse o regresso. Não sabia por que, apenas pressentia que precisava trazê-la de volta e não podia fazer uso das palavras. Tendo em vista quem ela se tornara, era melhor não correr riscos. Muitos homens têm convicção das suas certezas com uma mulher até chegarem perto e descobrirem que estão errados. “Ela é muito linda”, pensava o tempo todo em seu coração. E se fosse um sonho? Até sonhos precisam ser bem conquistados. Às vezes questionava-se por dentro, pensando ser ela mesma.
O sobrado onde ela morou ainda era da cor rosa, mas por que ele passou por ali? Sentiu vontade de pedir para entrar e olhar se por dentro ainda era a mesma casa. Observou a rua pavimentada com pedras e as casas com desleixo nas pinturas. A mercearia frente à sua casa se tornara um supermercado. No final da rua, uma praça. As palmeiras haviam crescido. Sem dizer nada, ele fez um contorno à praça e entrou por outra rua que ela não conhecia. Quando virou à esquerda, diminuiu a marcha e lentamente foi passando pela rua. Ele fingia procurar alguém. Ela percebeu, mas nada disse. O rapaz compreendeu nos olhos dela quando passaram frente à escola, estava perplexa. Pensou em pedir para entrar na escola, mas preferiu outra vez. Muitos ali a conheciam.  Ela se tornara a aluna mais ilustre daquela escola. Cursara até a sétima série antes de ir morar em São Paulo. Quando a cidade parecia terminar, ele parou frente a um escritório ao lado de um casarão, disse que voltava logo. Em seus pensamentos, tentava decifrá-lo.
Alguns minutos depois pegaram a estrada. As montanhas que passavam juntamente com a vegetação seca traziam lembranças. Será que só ela se lembrava? Os lugares a fazian voltar cada vez mais para dentro de si. A saudade demorada nela era como vento que volta sempre, às vezes forte ou simplesmente brando. Ele continuava dirigindo. Às vezes a olhava, lançava-lhe um sorriso e voltava a se concentrar na estrada. O silêncio a roía por dentro. Vinte anos é muito tempo para lembrar-se das coisas, mas o que acontecera nem se vivesse cem anos esqueceria. O segredo se guardou com segredo. Será que ele se lembrava? A estrada de terra fora ficando estreita. As árvores dobrando sobre a estrada, sensações estranhas. Por que estava ali com um conhecido estranho e se sentindo estranha? Sentiu medo, mas logo abandonou tais receios. Silvano sempre estava com ela, em quase todos os lugares com uma câmera na mão. Ele também era um estranho conhecido que mudou com ela após uma noite estranha no hotel em que ficaram. Refletiu.
Ele assoviou quando parou. Desceu do carro, fez alguns exercícios sob o olhar dela ainda dentro do carro, caminhou em direção a uma porteira e abriu os braços.
— Agora para chegar em casa há dois caminhos. – Sorriu. – Por qual você quer ir?
Ela riu por dentro. Ele tinha sotaque, ela não mais.
— O que aconteceu por aqui? – Disse observando as duas estradas ao descer do carro. Os caminhos sempre mudam, nós é que esperamos que eles sejam iguais.
— Houve muitas coisas... Já faz muito tempo, sabia?
— Sim.
— Então... Qual é o caminho? – Falou abrindo os braços, encostado no pilar da porteira. Se não fosse o riso dele, se renderia de vez ao medo.
— Tenho mesmo que escolher? – Encostada no carro, perguntou, sabendo que não havia como fugir da escolha. Ele falava sério. Era preciso confiar nele.
— Sim. – Disse fazendo um lento aceno com a cabeça. Ela sorriu timidamente e, separando uma mecha de cabelos, suspirou.
— Sinto saudades desse lugar... – Disse observando as colinas. No alto da montanha, uma árvore solitária exibia flores amarelas. O sol rodeado por nuvens escuras, mas que não impediam a sua luz, parecia sorrir timidamente. Ele sorriu. Contente por ter a resposta, entrou no carro.
— Ei! Não vai esperar a resposta?
— Por quê? Daqui a pouco vai escurecer. Escurece muito cedo por aqui. – Sorriu. – Você já respondeu. Vamos?!
Ela sorriu quando entrou no carro e, sem entender, confiou nele. Depois que fechou a porteira, lentamente o carro foi rompendo a subida. Era como se o silêncio lhes reservasse algo do outro lado. Havia medo e esperança depois do morro. Por que não me abraçou quando nos encontramos? Perguntava-se por dentro. Era gentil, mas para quem estava longe há tanto tempo, estava sendo frio. Estavam há trinta quilômetros da cidade. A fazenda onde ela nascera. O que fizeram com o rio Derly?  Não havia fala, não havia pressa, somente o som dos pneus quebrando o cascalho. Silenciosas indagações tornavam próximas as lembranças. Será que ele estava casado? Descartou essa possibilidade, pois, se estivesse, usaria aliança. Mas de repente se lembrou, muitos são casados e não usam alianças. Depois de contornarem a montanha, chegaram a uma estrada de terra que vinha da direita, encontrava-se com a que eles seguiam e se tornava uma só. Somos como duas estradas que se encontram, quando apaixonamos.
— De onde vem essa estrada?
— É aquela lá no início da porteira.
Seus olhos se estreitaram no rapaz. Ele gesticulou com os ombros tendo nos lábios um mero sorriso.
— Por que me fez escolher?
— Precisava saber se você é emotiva ou racional.
Ela sorriu. Ele era muito engraçado. O que tem isso a ver com as emoções? Questionou-se por dentro. Ele sorriu e apertou os ombros dela.
— Dizem que os jornalistas não são emotivos. Força do ofício.
Ela sorriu. Ele estava psicologicamente enganado quanto a ela. Dizem que quando os soldados alemães mantinham o povo judeu nos campos de concentração, eles não sentiam nenhum remorso, pois estavam pscoadaptados. Isso faz com que um médico possa se alimentar enquanto observa um paciente na mesa de operações. Ela estava acostumada a cobrir casos estranhos, mas se não fosse pelo salário, ou se tivesse que escolher, não escolheria essa. Nada contra a profissão. Para ela, que achava lindas as viagens, conhecer lugares inimagináveis, entrevistar grandes personalidades e aprender com elas, certas reportagens não lhe faziam bem. Depois do que acontecera com ela no Rio de Janeiro enquanto acompanhava os policiais na tomada do morro, não psicoadaptava nunca. Num momento de distração fora baleada com um tiro de fuzil. Quando conseguiu pensar, achou que não ia sobreviver. A morte mora na distração. Pensou novamente na estrada e relembrou algumas situações na sua vida. Há tantas coisas que evitamos e deixamos para trás. Mas um dia elas voltam, passam novamente por nós e, se não estamos preparados, aceitamo-las. Sem perceber. Há ocasiões em que, pelos próprios passos, voltamos em busca de sentimentos que foram apenas imaginados. Tudo porque as lembranças foram agradáveis, e de tão boas, se tornaram amigas.
— Não é bem assim.
— Mas você aceitou o da esquerda...
— Você quem escolheu por mim. – Sorriam enquanto falavam.
— Eu já sei a resposta, mas qual você ia escolher?
Ela sorriu embaraçada.
— O da esquerda.
— Viu?!
— Por que você não esperou a resposta?
— Você falou que sentia saudades e logo depois pensou na sua infância, isso fez você se emocionar.
— Tá querendo dizer que uma pessoa emocionada não sabe tomar decisões?
— Isso.
— Por que tem tanta certeza?
— Vivi isso. Você decidirá errado quando está feliz em excesso ou totalmente triste.
— Você é engraçado, sabia? – Ela falou mudando a forma de olhar para ele e até de analisar uma pessoa. Morava numa fazenda, mas como sabia dessas coisas? No momento em que avistaram a casa, depois de alguns minutos em silêncio, ele segurou as mãos dela. Era mesmo ele?
— Estou feliz em rever você. Agora como uma mulher, uma mulher bonita e famosa. – Ele disse lhe apertando as mãos. Ela quis dizer a mesma coisa, mas ele desceu antes de qualquer palavra. Ela permaneceu dentro do carro, inclinada no banco, tinha muitas dúvidas, sentimentais e profissionais. Será que tinha feito a coisa certa? Se fez, por que tinha medo? Viajou dois mil e seiscentos quilômetros, mais para vê-los que propriamente a trabalho. Sorriu para si mesma. Estava acostumada a ter desafios. Não podia recuar. Quanto a sua profissão, eles iam achar o jeito certo de entrarem em um acordo e ela seria apresentadora de um programa de entrevistas em outra emissora.
Um barbudo rapaz veio recebê-la quando chegaram à casa construída no topo do morro. Pilares ainda de madeira sustentavam a varanda. Voltamos a determinados lugares da nossa infância para reconstruir o adulto perdido ou para reencontrar a criança que se perdeu no tempo? Enquanto o rapaz recolhia as bagagens, ela olhou em volta e se sentiu criança. Um velho carro de boi ainda resistia ao tempo. Estava ali há muitos anos antes de ela nascer. Era o símbolo da fazenda. Os pés de jabuticaba, o pomar e uma roda d’água também sobreviveram ao tempo. A trezentos metros da casa, uma torre indicava que ali havia sinal de celular, esperava ser a operadora certa. Ela estava na região para fazer reportagens e aproveitara para rever os amigos de infância depois de cobrir um conflito entre índios e trabalhadores do governo que construíam uma usina hidrelétrica afastada dali. Acostumada a observar as coisas, notou alguns fios de cabelos brancos e um rosto envelhecido num moço que não era velho. Eram seis anos a mais que ela. Fez as contas. Aos trinta e sete anos não poderiam ser velhos.
— Fico feliz por ter vindo. – Adriel disse depois de um abraço. — Que bom ver você novamente.
O silêncio invadiu as falas e durou o necessário para que ela recorresse ao tempo e buscasse, em suas reminiscências, um tempo feliz. 
– O que aconteceu com ele? – Perguntou, depois de tentar reconhecer algumas das dezenas de pessoas que ali se encontravam.
— Infarto.
— Muito novo para um infarto.
— Muito agitado, nervoso sempre. Não se cuidava...
— Mesmo assim, o acho muito novo. – Ela concluiu, percebendo um mistério no ar. Era mesmo infarto?
Uma mulher de cabelos grisalhos no alto da cabeça, com olhos inchados, sorriu depois de abraçá-la. A dor escondeu o tempo e ela se perdeu naquele abraço. Sem dizer nada, até porque as lágrimas não permitiram palavras, choraram pela alegria de um reencontro e pela tristeza de uma despedida. Ambas perderam alguém. A mãe, um filho, ela?
— Você, sempre muito bonita. – Não houve palavras enquanto lhe acariciava o rosto. – Quando estou na cidade e a vejo na TV fico imaginando o dia em que você nasceu. Agora vejo você, uma mulher! – Disse apontando à moça. Gracy Mara sorriu ao ouvir a mãe dos rapazes. Demora-se tanto para viver os momentos, mas gasta-se pouco para lembrá-los.
O funeral rompeu a noite. Ninguém além deles por ali a conhecia. A TV na qual ela trabalhava não chegava o sinal na fazenda. Havia na casa uma parabólica, mas não na casa dos funcionários. Não queria parecer ridícula. E se perguntasse os nomes deles? Ia parecer que ela os havia esquecido? Guardou-se num silêncio sem razão.
— Venha! Quero lhe mostrar algo. – Dan falou arrastando-a pelo braço.
— Ei, mas e o funeral?
— Ele vai ficar aí até amanhã, deitadinho e sem problemas. – Um riso triste escapou dos seus lábios. – O sepultamento será às nove horas. – Completou.
Ele estava triste por perder o irmão, mas não perdeu o bom humor. Ela olhou para o rapaz que a abraçara, ele fez com a cabeça um sinal para que o seguisse. Ela sorriu. Dan tinha a mesma idade, mas parecia mais novo que os outros dois. Talvez por não ser tão sério. Ele fazia tudo sorrindo, mesmo com a dor de perder alguém. Andaram alguns minutos, as relvas cobriam as flores e fechavam parte do caminho cercado de pedras em forma de canteiros. Era como se há muito tempo alguém não passasse por ali. Ele, sabendo que ela viria, cuidou da capela, mas não se preocupou com o caminho.
— Ainda está do mesmo jeito! O caminho para chegar aqui mudou um pouco. – Disse ela, encantada com a capela que há tantos anos fora construída ao pé de uma pedra. Ela se lembrou de quando as máquinas cortaram o barranco e, acoplada à parede, construíram a capela com capacidade para dez pessoas. Com uma lanterna, Dan procurou o interruptor. As luzes acenderam, clareando as lembranças no coração de ambos, que por alguns instantes mergulhara no silêncio das recordações.
— Só poderá entrar de mãos dadas... De dois em dois... – Parados, ele apontou para a igreja. – Ela sorriu.
— Eu ainda lembro. Faltam quantos minutos?
— Trinta segundos para zero hora.
Aquela era uma brincadeira de infância. Aos sábados, o segundo do mês, os pais dela atravessavam o rio Derly, as famílias se ajuntavam para comemorar as colheitas. Enquanto os adultos proseavam, aproveitavam para brincar. E uma das brincadeiras era a de entrar na capela. Na hora determinada, entravam, ajoelhavam e faziam os pedidos. Tipo: que as colheitas fossem abençoadas. Simone, irmã da Gracy, entrou com o garoto que pediu para que a mãe dele nunca ficasse doente. Samuel ainda rezou pedindo para que, se um dia ela fosse embora, pudesse voltar. Agora ela voltara, mas ele não podia vê-la.
Na hora exata Daniel segurou a mão de Gracy. O coração da moça disparou e trouxe à tona as marcas que o tempo impingira nos seus sentimentos. Daniel pediu para que o seu irmão descansasse em paz. Ela fez o mesmo, mas lembrou da promessa feita ali quando ainda tinha onze anos. O coração muda com o tempo e utiliza o próprio tempo para amadurecer. São as rasuras da vida que fazem o corpo padecer aflições.

Depois que sepultaram o rapaz no cemitério da cidade, ela caiu no sono, vindo a acordar quando a noite já era avançada. Ao passar pelo corredor da casa, abraçou a senhora Luzia e permaneceu um longo tempo naquele abraço. Ao levantar a cabeça, viu que Dan estava sozinho na mesa. Tinha ele olhos no vazio. Eram trigêmeos e acabara de perder o do meio.
— Você, como está? – Disse, massageando os ombros dele. Ele se confortou naquele afago. Encostou a cabeça na mão dela e suspirou.
— Vou ficar bem. – Ele girou a cabeça e encarou-a nos olhos. Ela deu a volta à mesa e sentou-se de frente para ele.
— Quer conversar?
— Você se lembra? Nunca brigamos. – Rodou a caneca na mão misturando o leite no café. Tomou outro gole. Mesmo os que sorriem sempre, têm seus momentos de dores – Você não se lembra bem quem é quem, não é? – Voltou a encará-la nos olhos.           — Pra dizer a verdade, não. – Sorriu. – Vocês são muito parecidos, e já faz muito tempo que a gente não se vê.
— Sou o Daniel, o Dan, o que faleceu era o Sam, Samuel, o que recebeu você é o Adi – tomou novamente outro gole – “Adriel” nasceu primeiro, fui o último a nascer...
As horas seguiram com o som do TAC... TAC. O relógio antigo que tinha formato de um barco. Os ponteiros se movimentavam com o timão do navio e o som vinha dos movimentos de um pirata na direção. Quando era pequena ela tinha medo do pirata, mas era divertido ver o Sam treinar violão usando o som do relógio como metrônomo. No meio da saudade, olhou para o pirata e sentiu vontade de dizer: “Não tenho mais medo de você”.
— Faltam quarenta minutos, vamos voltar à capela?
— Vamos.
Antes de sair foi até o seu quarto apanhar uma blusa. Viu que Adi já dormia no quarto à frente. Diminuiu a força dos passos para não acordá-lo. Ao passar pelo corredor, viu na parede as fotos da família. Amareladas pelo tempo, mas reconhecível e em ordem, o pai, a mãe, os três irmãos e a irmã caçula, Dorotéia, que morava na Bahia e não veio para o funeral do irmão.
O corpo é o nosso tempo onde são gravadas raras cenas; dignas de fotografias, param o tempo por um breve instante, mas que não impede as gravuras das lembranças. Somos feitos para ir, voltando, estamos indo. Dan tinha uma lanterna nas mãos e um sorriso no rosto, ela? Medo.

— Uma vez eu li uma entrevista sua, dizia que você queria voltar à fazenda onde nasceu. Que, se pudesse, a compraria...
— É, eu disse isso uma vez, mas é só um sonho.
— Disse também que gostaria de ouvir novamente o pedido de casamento que recebera quando tinha onze anos...
— Nossa, a gente diz cada besteira. Depois se envergonha por ter dito. – Fez uma pausa. Ele respeitou o silêncio. – Já passaram cinco anos desde que eu disse essas coisas... – Sorriu envergonhada. Será que ele estava lembrando? Depois daquele momento nunca mais tocara no assunto. Era como se ela não existisse. – Mas, onde você leu isso?! – Disse olhando-o de canto.
— Por aí. – Ela o segurou pelo braço e, enquanto caminhavam, o observava. O silêncio entre os dois era composto pela canção dos grilos e o barulho do vento.
— Quem escrevia os bilhetes?
— Nossa, você viajou no tempo agora... – Ele sorriu surpreso com a pergunta. – Era o Sam. – Respondeu.
— Achei que era interessado na Simone. – Ela disse sondando os pensamentos do rapaz. – Mas eu gostava dos bilhetes, eram românticos.
— Não. Ele agia daquele jeito para não criar problemas com o Adi.
— O Adi? Hum... Eu me lembro quando ele me beijou à força. Fiquei com tanta raiva e, com vergonha, queria pular no rio, mas a sua irmã não deixou. Isso aconteceu naquele sábado à tarde quando a sua irmã foi dormir lá em casa e ele foi nos levar de barco.
— Ficou com raiva, mas gostou. – Disse ele num tom de provocação.
— Nunca havia beijado ninguém e, à força, não tem graça. Fico envergonhada até hoje quando lembro. Mas, por que esse assunto?
— Você fez perguntas novas esperando respostas antigas.
— Falou como filósofo agora. – Ela riu e lembrou-se do seu ex-namorado que tinha respostas para tudo, mas não era como as de Dan, ele possuía bom humor, não agredia com as perguntas nem com as respostas. Saulo pensava em reatar o namoro, mas quando voltasse ia dizer um não e colocar um fim definitivo na relação.
Ele esperou tocar no assunto, mas ela nada disse. Será que ela se lembrava? O tempo havia passado, mas as lembranças clamavam por um reencontro. Ele crescera. Virou um profissional exemplar. Engenheiro civil e de uma família bem sucedida. Comprara a sua própria fazenda com o seu próprio dinheiro. Há muitos anos trabalhava na construção da casa dos seus sonhos. Nunca se casara. Diferente dos seus irmãos, que passaram por dois casamentos e tiveram filhos. Morava na cidade e, nos fins de semana e feriados, refugiava-se na fazenda.
— Você parece com medo.
— Não é medo, é... Deixa pra lá.
Quando saíram da igreja, ela tinha uma certeza: o tempo, que muda tudo, não havia mudado os seus sentimentos. Ao segurar a mão dele lembrou que era preciso retornar e só tinha mais um dia. Havia feito o seu trabalho e precisava voltar aos seus compromissos.
Ele acordara cedo. Fez a barba antes de sair do quarto. Colocou uma bermuda e tênis. Já passava das oito horas. Quando ela se levantou e veio tomar o café, tudo estava pronto. O céu tomado de azul e as poucas nuvens não impediam o sol na varanda. Tinha ela os cabelos molhados, soltos e não usava maquiagem. Ele demorou com os olhos nela. Era mais bonita que na TV e, se não a visse todos os dias, não a reconheceria daquele jeito. Ela o observou sem a barba, parecia outro alguém, mas amou o que viu. Quando o coração volta no tempo, a emoção que se encontra lá é reconstruída. Podemos amar o que já passou, mas com o amor do momento. Ela amou aquele momento, pois nele havia dois corações que se guardaram.
— Aonde vamos?
— É surpresa.
— Mais uma?!
— A de ontem não era, você já esperava.
— Era sim.
— Ainda sabe montar?
— Sim. – Sorriu colocando um boné depois de ajeitar os cabelos. – Antes de vir pra cá fiz uma reportagem e tive que montar.
— Tudo bem então.
Ela esbarrou nele quando foram passar pela porta ao mesmo tempo. Ele recuou deixando-a passar.
— Qual é o meu? – Apontou os cavalos.
— A marrom.
A senhora Luzia observou da janela. Eles caminhavam pelos pastos puxando os cavalos. Havia perdido um filho e ganhara outro quando ela chegou. Por que esperar tanto tempo? E se os caminhos não se encontrassem como as estradas da fazenda? Cada coração sabe a força necessária de uma espera. A espera esperada faz acordar a vida que o destino planejou.
— O rio secou? – Ela disse depois de cavalgarem por um longo tempo.
— Represaram o rio e desviaram o curso dele para construir a usina onde você esteve e o que sobrou do rio foi isso aí. – Disse apontando o córrego. – Lá aonde atravessávamos, fizemos uma represa e dentro dela construí uma linda casa. A fazenda que um dia fora dos seus pais, agora nos pertence. Compramos do morador que comprara de vocês.
Meia hora depois eles desmontaram. Ela assentou à beira do lago e, enquanto ouvia o rapaz, quis chorar. O Rio separava as terras dos pais deles, mas não afastava as famílias. Agora uma casa ocupava os dois lados, por quê?
— Magnífico esse lugar. – Ela falou debruçando sobre o parapeito na varanda depois de andarem pela casa. Estavam lá os móveis planejados. Uma casa dentro de um lago, parecia loucura, mas era o sonho dele. Um palácio da alvorada no rio que passava entre eles, assim a definia quando alguém lhe apontava a loucura.
— Durante todo esse tempo acompanhei você e li tudo que publicaram a teu respeito, por isso construí essa casa. – Fez uma pausa. – A casa dos seus sonhos. Sei que por muito tempo ignorei esse amor. Tudo por causa de um beijo forçado. Achava que você gostava do meu irmão, que eu não tinha chances, e que você não se importava comigo. Guardei silêncio, mas sempre sonhei em trazer de volta aquele momento na capela. As mulheres não gostam dos românticos tímidos. Tenho a impressão que elas preferem os cafajestes...
Ela o abraçou e, depois de saber tudo sobre ele, ouviu a declaração que o seu coração há muito tempo buscava ouvir. Ele estava mais uma vez psicologicamente errado quanto aos seus conceitos sobre as mulheres. Ela sempre evitou os cafajestes. Teve seus momentos de ilusão, mas nunca escondeu o seu amor por ele. Pensou nas coisas que o tempo não apaga, se entregaram num beijo.
Ela ainda era Gracielle Nunes Marakovics, menina sem sonhos que, depois de um beijo, conheceu o desprezo. Os trigêmeos se apaixonaram pela mesma menina de olhos verdes e cabelos castanhos escuros despenteados que morava do outro lado do rio. Depois daquela noite na capela em que um beijo aconteceu antes de um pedido de casamento, ele nunca mais demonstrara sentimentos. Com onze anos, ela não sabia o que era o amor, mas aprendeu o que era amar. Todos eles gostavam dela, mas ela se apaixonou por aquele que não demonstrava amor.


sábado, 2 de março de 2013

TALVEZ VOCÊ GOSTE



                                                                                                                             FOTO DE REPRODUÇÃO

Talvez você goste das mesmas coisas diferentes, buscando a diferença. Talvez você goste da diferença, mas sem perceber, seja simplesmente igual. Talvez você tenha medo do amor. Talvez você tenha medo da dor. Talvez você tenha medo da vida. Talvez você não saiba, quem nunca temeu o inesperado? Talvez você goste de ser como és, mas anseie ser diferente...
É que talvez, sem se importar com a simplicidade, você tenha medo de ser feliz. Talvez você goste, não é proibido gostar.
Talvez você goste de acordar cedo, de esperar o sol nascer, ou talvez você goste simplesmente de olhar no espelho, ver um rosto diferente, sabendo que é seu e que até o final do dia terá os traços normais. Talvez você goste de acordar tarde e deixar que o dia simplesmente passe. Passe pelo quarto. Passe pela cama. Passe por você. Passe pelo hábito de passar. Talvez você goste, não é proibido deixar passar.
Talvez você goste dos dias nublados, dos dias de chuva ou de sol. Talvez você goste de um céu simples, sem nuvens, com o azul todo pra você. Talvez você goste de dividi-lo com os outros. Talvez você goste mesmo é dos céus escuros, e sem perceber, procura lá as pessoas.
Talvez você goste das estradas em linhas retas, ou dos mistérios das curvas. Talvez você goste mesmo é de não ver as estradas, se encanta com as flores à beira dos caminhos, para não ansiar a chegada. Talvez você goste de chegar, sem querer partir. Partir, e nunca querer chegar. Talvez você goste mesmo é de partir. Partir. Partir. Partir.
Talvez você goste das canções que invadem o seu tempo, te levam pra longe, te levam pro futuro, te devolvem ao passado... Talvez você goste do passado e, displicentemente, esconda nele o futuro. Talvez você goste mesmo é das canções que te trazem ao presente e promovam um encontro com você mesmo. É que, talvez, uma canção é tudo. Que um abraço é tudo. Um beijo é tudo. Um bilhete é tudo. Que um riso é tudo e, sem perceber, viver é tudo.
Talvez você goste de si mesmo. Talvez você goste da dúvida. Quem nunca duvidou de si mesmo?
Talvez você goste das manhãs em que o sol sorri e te enche de ânimo. Ou dos dias frios que enchem você de preguiça. Não é proibido ter preguiça por alguns instantes. Talvez você goste dos dias iguais. Talvez você goste dos dias normais. É que os dias normais trazem até nós pessoas normais, notícias normais, sonhos normais. Talvez você goste dos sonhos normais. Quando tudo é normal, não é normal.
Talvez, você goste de apressar o tempo. De apressar os planos, de apressar os enganos, de apressar o viver. É que, talvez, você goste de apressar a felicidade. Talvez você goste de jogar palavras. Talvez você goste de pôr a mão na consciência. Talvez você goste de querer ser feliz. Não é proibido ser feliz. Talvez você não saiba:
Temos tanta pressa em sermos felizes que não paramos pra ouvir a inteligência.
Talvez você “não” goste do que eu disse no final, mas eu precisava dizer. Talvez você goste. Talvez...


[1] Citação do Padre Fábio de Melo: Meus pés desejam partir, meu corpo deseja chegada.


TALVEZ VOCÊ GOSTE



                                                                                                                             FOTO DE REPRODUÇÃO

Talvez você goste das mesmas coisas diferentes, buscando a diferença. Talvez você goste da diferença, mas sem perceber, seja simplesmente igual. Talvez você tenha medo do amor. Talvez você tenha medo da dor. Talvez você tenha medo da vida. Talvez você não saiba, quem nunca temeu o inesperado? Talvez você goste de ser como és, mas anseie ser diferente...
É que talvez, sem se importar com a simplicidade, você tenha medo de ser feliz. Talvez você goste, não é proibido gostar.
Talvez você goste de acordar cedo, de esperar o sol nascer, ou talvez você goste simplesmente de olhar no espelho, ver um rosto diferente, sabendo que é seu e que até o final do dia terá os traços normais. Talvez você goste de acordar tarde e deixar que o dia simplesmente passe. Passe pelo quarto. Passe pela cama. Passe por você. Passe pelo hábito de passar. Talvez você goste, não é proibido deixar passar.
Talvez você goste dos dias nublados, dos dias de chuva ou de sol. Talvez você goste de um céu simples, sem nuvens, com o azul todo pra você. Talvez você goste de dividi-lo com os outros. Talvez você goste mesmo é dos céus escuros, e sem perceber, procura lá as pessoas.
Talvez você goste das estradas em linhas retas, ou dos mistérios das curvas. Talvez você goste mesmo é de não ver as estradas, se encanta com as flores à beira dos caminhos, para não ansiar a chegada. Talvez você goste de chegar, sem querer partir. Partir, e nunca querer chegar. Talvez você goste mesmo é de partir. Partir. Partir. Partir.
Talvez você goste das canções que invadem o seu tempo, te levam pra longe, te levam pro futuro, te devolvem ao passado... Talvez você goste do passado e, displicentemente, esconda nele o futuro. Talvez você goste mesmo é das canções que te trazem ao presente e promovam um encontro com você mesmo. É que, talvez, uma canção é tudo. Que um abraço é tudo. Um beijo é tudo. Um bilhete é tudo. Que um riso é tudo e, sem perceber, viver é tudo.
Talvez você goste de si mesmo. Talvez você goste da dúvida. Quem nunca duvidou de si mesmo?
Talvez você goste das manhãs em que o sol sorri e te enche de ânimo. Ou dos dias frios que enchem você de preguiça. Não é proibido ter preguiça por alguns instantes. Talvez você goste dos dias iguais. Talvez você goste dos dias normais. É que os dias normais trazem até nós pessoas normais, notícias normais, sonhos normais. Talvez você goste dos sonhos normais. Quando tudo é normal, não é normal.
Talvez, você goste de apressar o tempo. De apressar os planos, de apressar os enganos, de apressar o viver. É que, talvez, você goste de apressar a felicidade. Talvez você goste de jogar palavras. Talvez você goste de pôr a mão na consciência. Talvez você goste de querer ser feliz. Não é proibido ser feliz. Talvez você não saiba:
Temos tanta pressa em sermos felizes que não paramos pra ouvir a inteligência.
Talvez você “não” goste do que eu disse no final, mas eu precisava dizer. Talvez você goste. Talvez...


[1] Citação do Padre Fábio de Melo: Meus pés desejam partir, meu corpo deseja chegada.


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Talvez você goste das mesmas coisas diferentes, buscando a diferença. Talvez você goste da diferença, mas sem perceber, seja simplesmente igual. Talvez você tenha medo do amor. Talvez você tenha medo da dor. Talvez você tenha medo da vida. Talvez você não saiba, quem nunca temeu o inesperado? Talvez você goste de ser como és, mas anseie ser diferente...
É que talvez, sem se importar com a simplicidade, você tenha medo de ser feliz. Talvez você goste, não é proibido gostar.
Talvez você goste de acordar cedo, de esperar o sol nascer, ou talvez você goste simplesmente de olhar no espelho, ver um rosto diferente, sabendo que é seu e que até o final do dia terá os traços normais. Talvez você goste de acordar tarde e deixar que o dia simplesmente passe. Passe pelo quarto. Passe pela cama. Passe por você. Passe pelo hábito de passar. Talvez você goste, não é proibido deixar passar.
Talvez você goste dos dias nublados, dos dias de chuva ou de sol. Talvez você goste de um céu simples, sem nuvens, com o azul todo pra você. Talvez você goste de dividi-lo com os outros. Talvez você goste mesmo é dos céus escuros, e sem perceber, procura lá as pessoas.
Talvez você goste das estradas em linhas retas, ou dos mistérios das curvas. Talvez você goste mesmo é de não ver as estradas, se encanta com as flores à beira dos caminhos, para não ansiar a chegada. Talvez você goste de chegar, sem querer partir. Partir, e nunca querer chegar. Talvez você goste mesmo é de partir. Partir. Partir. Partir.
Talvez você goste das canções que invadem o seu tempo, te levam pra longe, te levam pro futuro, te devolvem ao passado... Talvez você goste do passado e, displicentemente, esconda nele o futuro. Talvez você goste mesmo é das canções que te trazem ao presente e promovam um encontro com você mesmo. É que, talvez, uma canção é tudo. Que um abraço é tudo. Um beijo é tudo. Um bilhete é tudo. Que um riso é tudo e, sem perceber, viver é tudo.
Talvez você goste de si mesmo. Talvez você goste da dúvida. Quem nunca duvidou de si mesmo?
Talvez você goste das manhãs em que o sol sorri e te enche de ânimo. Ou dos dias frios que enchem você de preguiça. Não é proibido ter preguiça por alguns instantes. Talvez você goste dos dias iguais. Talvez você goste dos dias normais. É que os dias normais trazem até nós pessoas normais, notícias normais, sonhos normais. Talvez você goste dos sonhos normais. Quando tudo é normal, não é normal.
Talvez, você goste de apressar o tempo. De apressar os planos, de apressar os enganos, de apressar o viver. É que, talvez, você goste de apressar a felicidade. Talvez você goste de jogar palavras. Talvez você goste de pôr a mão na consciência. Talvez você goste de querer ser feliz. Não é proibido ser feliz. Talvez você não saiba:
Temos tanta pressa em sermos felizes que não paramos pra ouvir a inteligência.
Talvez você “não” goste do que eu disse no final, mas eu precisava dizer. Talvez você goste. Talvez...


[1] Citação do Padre Fábio de Melo: Meus pés desejam partir, meu corpo deseja chegada.