sábado, 18 de maio de 2013

AMANHÃ, NO CAFÉ ?!?

                                     FOTO: REPRODUÇÃO.


Em meio a gritos e sons de pisadas, alguém disse: AMANHÃ, NO CAFÉ? As crianças continuaram com suas algazarras, gritando, correndo e batendo os pés. O salão estava cheio. As senhoras conversavam, todas ao mesmo tempo. Num canto do salão, os homens falavam, um de cada vez. As crianças corriam de um lado a outro com brincadeiras que eu não sei o que significavam. Já fui criança. As brincadeiras de outrora também não significavam nada. Hoje significam, há, nas lembranças, saudades. O homem de terno preto dirigia-se a cada homem e reforçava o convite.
— Amanhã, no Café! – Depois que dizia, seguia em direção aos outros. Novato no grupo, meus ouvidos me instigavam. O quê haverá nesse Café? Desde que eu chegara ali, o homem de terno anunciava. Perdi o brilho da cerimônia, algo no Café, mas o quê? Meu amigo celebrava bodas de ouro. Não se encontra mais Alfredo e está cada vez mais raro celebrar bodas de ouro. Alfredo era popular na cidade, a comida era de graça, daí, o salão cheio.
O homem de terno veio em minha direção, esperei o convite, ele passou por mim, colocou a mão sobre o ombro de um senhor calvo e...
— Amanhã, no Café.
— Não. Amanhã não posso ir.
— Mas estava combinado...
— Sim, mas houve um imprevisto.
— Nossa! Eu contava com a sua presença lá.
— Eu sei, mas houve um imprevisto.
— Como assim, um imprevisto?
— Não posso dizer.
— Mas estava tudo certo...
— Olha, não vai dar pra ir, ok? – Falou o homem calvo, já sem paciência, atiçando a minha indiscrição.
— Tudo bem, mas estava tudo acertado. – O homem de terno se afastou e, cabisbaixo, continuou a sua missão. O que vai haver no Café? A minha curiosidade clamava. Depois de cantarem os parabéns, o meu amigo Alfredo esperou a Rosa Maria – sua filha primeira – terminar a canção que ela compusera e tocava ao piano. Após o discurso do Alfredo, o homem de terno preto exorou uma oportunidade, se apossou do microfone e, quando todos esperavam uma homenagem, disparou:
— Pessoal, amanhã no Café. – Imaginei mil coisas que agradam um homem, mil e uma era aquela, no Café. Quando a sala se esvaziou, com o desejo de conhecer o Café, questionei o Alfredo, na intenção de que pudesse ser convidado. O meu amigo sorriu, percebendo meus anseios indiscretos.
— Amanhã não vou. Não posso mais fumar nem beber e jogar truco: a minha esposa inflama.
Não era para mim um agradável programa de domingo, mas era tão poético, “Amanhã, no Café”. 

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