Quando eu nasci, a minha mãe me falou coisas. Ensinou-me a viver essas
coisas. Muitas deram certo. Ela estava certa. “Esse menino precisa aprender”.
Dizia depois de uma bronca, ou de usar alguns acessórios, cintas, chinelos, pá
de torrar café e varinhas. Às vezes a mão inteira ou um simples toque de dedos
– o famoso beliscão – que volta e meia encontrava as minhas sensíveis orelhas.
Quando puxadas, arregalavam-me os olhos. Acho que é por isso que vejo coisas
que os meus amigos não veem. Mas eu não os interpreto, nem as coisas nem os
amigos. Cada um vê o que pode, sente o que sente e vive como lhe apraz. Eu fui
privilegiado.
Havia no quintal um pé de roseira que produzia galhos para a nossa
educação. Aquela roseira cedia à minha mãe alguns galhos por dia. Tínhamos
folga no fim de semana, mas, se as visitas fossem “da casa”, a roseira não se
importava. Eu e o meu irmão éramos sócios naquela planta.
Algumas mães educavam por necessidade, a minha, por esporte. No espaço
entre uma varada e outra, havia dor. O arrependimento reinava ali, mesmo por alguns
segundos. Depois vinham outro dia, outras travessuras e outros galhos. As rosas
que hoje vejo não são como as de ontem. Aquelas eram sem espinhos, ótimas para
a educação. Sempre que vejo um pé de rosas, penso na palavra aprender. O meu
pai a utilizou poucas vezes. Ele explicava o caminho das rosas. A cada varada
ele esclarecia o porquê de cada dia e de cada travessura. Com ele o galho de
uma flor ganhava a função de um diário. Lido com clareza, clareava nossos
erros.
A palavra “aprender” vai do mais simples aos sofisticados detalhes da
vida. Aprendi que não se enxuga as mãos com qualquer pano, que não se fala de
qualquer jeito a fala, que não se escuta tudo que tem para ouvir. Nem ouvir de
qualquer jeito o que era para escutar. Aprendi que somos como diamante, e que
algumas pedras demoram mais para dar brilho. Aprendi que vivemos em dois
extremos: vivemos por aquilo que cremos para nós e pelo que as pessoas deduzem
sobre a gente. Depois de gastar os meus dias seguindo as palavras de quem não
conhece o meu futuro, descobri que viver do meu jeito também pode dar certo.