quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

ONTEM EU APRENDI!



Quando eu nasci, a minha mãe me falou coisas. Ensinou-me a viver essas coisas. Muitas deram certo. Ela estava certa. “Esse menino precisa aprender”. Dizia depois de uma bronca, ou de usar alguns acessórios, cintas, chinelos, pá de torrar café e varinhas. Às vezes a mão inteira ou um simples toque de dedos – o famoso beliscão – que volta e meia encontrava as minhas sensíveis orelhas. Quando puxadas, arregalavam-me os olhos. Acho que é por isso que vejo coisas que os meus amigos não veem. Mas eu não os interpreto, nem as coisas nem os amigos. Cada um vê o que pode, sente o que sente e vive como lhe apraz. Eu fui privilegiado.
Havia no quintal um pé de roseira que produzia galhos para a nossa educação. Aquela roseira cedia à minha mãe alguns galhos por dia. Tínhamos folga no fim de semana, mas, se as visitas fossem “da casa”, a roseira não se importava. Eu e o meu irmão éramos sócios naquela planta.
Algumas mães educavam por necessidade, a minha, por esporte. No espaço entre uma varada e outra, havia dor. O arrependimento reinava ali, mesmo por alguns segundos. Depois vinham outro dia, outras travessuras e outros galhos. As rosas que hoje vejo não são como as de ontem. Aquelas eram sem espinhos, ótimas para a educação. Sempre que vejo um pé de rosas, penso na palavra aprender. O meu pai a utilizou poucas vezes. Ele explicava o caminho das rosas. A cada varada ele esclarecia o porquê de cada dia e de cada travessura. Com ele o galho de uma flor ganhava a função de um diário. Lido com clareza, clareava nossos erros.
A palavra “aprender” vai do mais simples aos sofisticados detalhes da vida. Aprendi que não se enxuga as mãos com qualquer pano, que não se fala de qualquer jeito a fala, que não se escuta tudo que tem para ouvir. Nem ouvir de qualquer jeito o que era para escutar. Aprendi que somos como diamante, e que algumas pedras demoram mais para dar brilho. Aprendi que vivemos em dois extremos: vivemos por aquilo que cremos para nós e pelo que as pessoas deduzem sobre a gente. Depois de gastar os meus dias seguindo as palavras de quem não conhece o meu futuro, descobri que viver do meu jeito também pode dar certo.