quarta-feira, 24 de abril de 2013

A MICROSOFT E EU


 Um dia, quando voltava para casa, pensei na minha caixa de email. No caminho, justo naquele dia, pensei nos avisos que a Microsoft emitia alertando para esvaziar a caixa de email. Nem dei bola. Tinha coisas importantes guardadas lá, incluindo os nomes que nunca me procuraram. Nunca tive coragem de excluí-los. Sempre que pensava fazer, vinha uma indagação: e se um dia você precisar deles? Então eu desistia. Vários nomes, mais de cem, mas apenas quatro às vezes deixavam um recado. Alguns contatos profissionais: me esforço para mantê-los. A vida é cheia de graça, mas qual a graça em tudo isso? Passaram-se vários anos e os nomes continuaram lá, provocando uma atitude minha.
No caminho, fiz um breve balanço da minha vida nos últimos anos. Penso que todos possuem uma caixa de email com contatos desconhecidos. Deles vêm coisas que não nos servem. Quantas pessoas passaram por mim e hoje nem sei mais por onde andam. A vida e seus ciclos! A vida e suas fases! No tempo de cada coisa, uma forma de amizade. Meus amigos músicos não conheceram meus colegas atletas marciais. Hoje eu voltei aos livros. A vida e suas fases.  E seus ciclos!
Tornou-se dependência abrir a caixa de email três ou mais vezes por dia esperando um recado. Na maioria das vezes, dois vazios, o da caixa e o do meu eu.
No dia em que mais ansiava abri-la, encontrei excluída a minha conta. Susto. Revolta. Desespero. Fiz o que pude para recuperá-la até perceber que precisava mesmo era de uma conta nova. A Microsoft tomou por mim a decisão. Quando deixamos que o outro tome por nós as decisões, corremos o risco de perder coisas importantes. Recomeçar. Não tive escolhas. Recomeçar, ainda que doam os recomeços. A Microsoft não pensou nisso quando apagou a minha conta, mas me ensinou que, dos muitos nomes presentes naquela lista, poucos eram os presentes. Amigos só na palavra amigo. Como a Microsoft e eu, simplesmente.