Um dia, quando voltava para casa, pensei na minha caixa de email. No
caminho, justo naquele dia, pensei nos avisos que a Microsoft emitia alertando
para esvaziar a caixa de email. Nem dei bola. Tinha coisas importantes
guardadas lá, incluindo os nomes que nunca me procuraram. Nunca tive coragem de
excluí-los. Sempre que pensava fazer, vinha uma indagação: e se um dia você
precisar deles? Então eu desistia. Vários nomes, mais de cem, mas apenas quatro
às vezes deixavam um recado. Alguns contatos profissionais: me esforço para
mantê-los. A vida é cheia de graça, mas qual a graça em tudo isso? Passaram-se
vários anos e os nomes continuaram lá, provocando uma atitude minha.
No caminho, fiz um breve balanço da minha vida nos últimos anos. Penso
que todos possuem uma caixa de email com contatos desconhecidos. Deles vêm
coisas que não nos servem. Quantas pessoas passaram por mim e hoje nem sei mais
por onde andam. A vida e seus ciclos! A vida e suas fases! No tempo de cada
coisa, uma forma de amizade. Meus amigos músicos não conheceram meus colegas
atletas marciais. Hoje eu voltei aos livros. A vida e suas fases. E seus ciclos!
Tornou-se dependência abrir a caixa de email três ou mais vezes por dia esperando
um recado. Na maioria das vezes, dois vazios, o da caixa e o do meu eu.
No dia em que mais ansiava abri-la, encontrei excluída a minha conta.
Susto. Revolta. Desespero. Fiz o que pude para recuperá-la até perceber que
precisava mesmo era de uma conta nova. A Microsoft tomou por mim a decisão.
Quando deixamos que o outro tome por nós as decisões, corremos o risco de
perder coisas importantes. Recomeçar. Não tive escolhas. Recomeçar, ainda que
doam os recomeços. A Microsoft não pensou nisso quando apagou a minha conta,
mas me ensinou que, dos muitos nomes presentes naquela lista, poucos eram os
presentes. Amigos só na palavra amigo. Como a Microsoft e eu, simplesmente.