quarta-feira, 18 de setembro de 2013

MÃOS CURTAS


 

Hoje o amanhecer acordou mais cedo. Despertei-me devagar. Notei a falta de tantas coisas. Falta de uma manhã sem pressa. De um dia em que as horas conversam para não ver o tempo passar. Malemolência. Hoje eu acordei como quem não acorda. Frente ao meu desconcerto, vejo minha imagem na parede, ouço o espelho dizendo como estou. Vejo o tempo na parede, passando como passa a vida que passa sem querer passar. Os ponteiros, como eu, dão uma imensa volta, passeando pelo mesmo lugar. Procuro pela criança de ontem que no adulto se esconde hoje. Criança sente falta, mas não é falta que machuca, é falta que dói com um doer que não perdura. Senti falta.
 Observei os meus discos, os meus livros, as minhas fotografias. Diferente! Eu ontem... Eu hoje... A imagem e o ser. Rasgando o tempo que rasga o ser. Não importa a imagem ou o ser, importante é o hoje.
Divido-me em tantas coisas. Nestas coisas tantas, me apego às faltas que hoje sinto sem querer sentir.
Olhos que me olharam. Falas que me falaram. Mãos compridas que seguraram as minhas mãos curtas, carentes de um toque. Desencontros. O meu eu e as faltas. A saudade é para o homem o caminho da volta. A saudade é a falta da metade que não voltou.
Há tantas voltas.
Das tantas coisas que fazem um homem voltar, volto pela saudade de ter as mãos curtas escondidas entre mãos compridas.