FOTO DE REPRODUÇÃO
Era para usar os sinônimos. Há pouco tempo sentávamos no meio fio e
ficávamos lendo mensagens no celular. Ela deixava os cabelos soltos. Em tão
pouco tempo o dia passava. Eu, José Maria, gostava de observar as palavras estranhas,
ela, Maria José gostava de ler as palavras ao contrário. Quase no final da
noite eu enviava os meus trabalhos, ela lia, nas redações assinalava: use mais
os sinônimos. Ela ia para a escola de manhã, a noite era a minha vez. A tarde
era nossa. Juntos não havia sinônimo de bom, era simplesmente bom. Antônimos
apenas no futebol. Corinthians e Palmeiras. À tarde eu me acostumara a ficar
com ela, mas não reparava na camiseta com uma águia. Adoro águias, mas não no
futebol. Para onde eu ficava olhando? A gente se acostuma a não ver as coisas.
Ela detestava o verde. Acho que corintiano não torce pela seleção brasileira,
pois, na bandeira do Brasil não tem o preto. Ela tinha um lado palmeirense que
eu adorava, mas quando eu mencionei isso, ela nunca mais quis ler um livro no
jardim. Um dia disse que queria pintar a grama de preto.
Um dia fui visitá-la e fiquei sabendo que não podia vê-la. ??? Mas???
Como assim?! Ela havia passado mal e estava internada. A minha cabeça se encheu
de reticências. No meu coração, um travessão. Nos meus desejos, interrogações.
Desejei ardentemente vê-la. Preferia o antônimo do mal. Nas tardes que nos
faziam bem, queria simplesmente vê-la bem.
A reminiscência, sinônimo de recordação, traz em mim um bem que me faz
bem. As minhas redações ganham sentidos melhores quando uso os sinônimos.
Os antônimos se agigantaram quando crescemos. Ela conheceu um cara que
chegou como desinência dela. Começou a namorá-lo, descobriu que era um
sinônimo. Há pouco tempo a encontrei. Casada, há um ano suportando um antônimo,
disse que sentia saudades de quando sentávamos no meio fio e que as nossas
diferenças eram o jeito simples de sentir o amor. Quanto a mim, namoro alguém com
o nome de Josefa. Ela não gosta de redações, nem de futebol, nem de trocar
mensagens no celular. Não me impede de tocar nas lembranças e nem de amar os
sinônimos.