FOTO DE REPRODUÇÃO
O homem caminhava sozinho. Num
banco da praça, um jornal abandonado. Naquele fim de tarde não chovera, e nem
vento forte fizera. Ainda havia sol. As nuvens se ajuntavam no céu. A escuridão
ameaçava chegar. Poucas eram as pessoas que ali estavam. Indagações dilaceravam
o coração do homem que, no momento, tinha a mente cansada, os sentimentos
machucados e os pés enfadados por caminhar sem rumo. Vendo o banco, sentou-se.
Foi direto ao jornal.
“Não me atrevo mais aos versos, quero mostrar os meus reversos. Mudar,
a vida concedeu. Eu perto de mim. Perto de mim como a roupa grudada, mas o
amigo era eu.
Não entristeço o mundo tocando canções que me arremetem ao tempo. As
minhas conclusões, descritas como um filme que agrada, desagradam. Um falso
argumento, a vida concedeu. Eu comigo. Perto de mim, as pessoas sorriam, mas o
amigo era eu.
Não reclamo ao coração a falta de um tempo austero, sem considerar que
o NÃO é um SIM quando diz não. Dentro de mim, o que não era meu, estava comigo.
Eu comigo. Pessoas me queriam, mas o amigo era eu.
Eu estava com pressa. O tempo destempava com pressa. Os diálogos
dialogavam com pressa. Os olhares olhavam com pressa. A vida estava devagar,
mas o devagar tinha pressa. Com pressa, me encontro ausente. Num tempo que não
é meu. Eu estou sempre comigo, mas o amigo sou eu.
Vejo carros trocando pressas; sorrisos esboçando pressas; compreensões
planejando pressas; incompreensões projetando pressas. Eu, com pressa, estou
aqui. Como guerra que não acaba ou como música que não agrada. Estou aqui como
quem deseja estar. As pessoas me olham. A gente sorri. Alegria, a vida me
concedeu. Estou perto de mim, mas o amigo sou eu.
O existir se arrasta. Segue sem rumo um discurso calvo. Busca um tempo
que não é mais seu. Tão perto de mim, eu estava. Perto de mim? Sim, estou. Bons
tempos a vida concedeu. Muitos comigo, mas o amigo sou eu”.
O homem não mudou de página. O
jornal estava amassado. Provavelmente alguém mais o folheou e também não
conseguiu mudar de página.
— Por que as pessoas não têm tempo
se não criam nada? – indagou. Por uma estranha razão ele pensou na história de
Narciso contada por Oscar Wilde. – Se mudassem os espelhos, a vida teria
pessoas mais disponíveis, certamente. – Ponderou.