Gente que arrasta os pés tendo nas mãos porções de
sacolas. É assim quando me esquino na esquina. Cada um muda os passos de um
jeito. As vitrines arrastam os olhares. Impossível não vê-las, não desejá-las,
não contemplá-las. Contradizem-nos. É isso! Elas contradizem-nos. Saímos para
vê-las, não para consumi-las. Os bolsos rezingam. Como eu, ocos. Sou duas ruas.
É assim quando me esquino sem querer me esquinar. As pessoas vão e vêm. Algumas
trazem a cara amarrada, outras abrem caminhos em mim. Com um simples sorriso,
tiram de mim as esquinas e também as anfibologias.
Abro estradas no meu caderno, mas não uso máquinas,
apenas palavras. Desenho rostos. Penso conhecê-los. À distância nossas procuras
são iguais. Cismo com o tempo: será que vão passar as marés antes que as estações cheguem no horário combinado?
De certo chegará. Chegam as chuvas, os ventos também. Na primeira porta,
ingresso. Estou diante dos meus medos. Ela será a minha direção. Meus planos
serão narrados primeiro a ela. Serei capaz de levantar às madrugadas para tal
fato. Noto, através do vidro, não há mais chuva e nem vento. Do lado de fora o
sol sorri com um riso que desata o mundo. Sinto o seu riso dourando as ruas e
também as minhas esquinas. Cheio de futuros, passo pela porta que me acolheu
quando as estações mudaram. Como um ato de devolução, toco a rua com os pés. Do
outro lado da vitrine intuo: já não sou mais o mesmo, vejo pessoas que arrastam
os pés tendo as mãos cheias de sacolas, enquanto disparo risos pela rua, tendo
nas mãos uma Agenda nova.