domingo, 18 de maio de 2014

FOTOGRAFIAS EM FASES



Seu rosto em três dimensões. Fingindo não ver o ser que a olha. O que é preciso para obter sua atenção? Na sua fotografia sou retrato, também em três partes. A primeira, o tempo. A segunda o pensamento e a terceira, penso descansar um sentimento.
Almejo estar do lado de lá onde repousam os seus cabelos. Mas não quero escapar do lado de cá onde contemplo a sua imagem.
Estático.
Similar a um avaliador de quadros, ausento de mim, levado pelas minúcias do seu rosto. Quase sinto a sua pele. Descanso em cada interstício. Demoro na circunferência da sua boca, desenho seus lábios... Tocá-los. Lúdico querer. Impossível imaginação.
Prossigo até onde os olhos permitem. Vou de curvas em curvas, tocado pela barroca luz. Cada parte esboça uma cor em tons de mistérios. Também sou três metades. Duas que saem em busca da vida e uma que espera um porto seguro. Na brincadeira com fotografias, nos escondemos. Inventamos e damos asas à criação. Queremos ser totais, mas no fundo, desejamos a nós mesmos. Entre formas e imagens, adolesce a poesia esperada na metade do corpo de uma mulher fotografada. Os adornos são simples. Não é preciso enfeites, pois não há na vida nada que enfeite a beleza natural de uma mulher.  



domingo, 11 de maio de 2014

PRONOMIZANDO


PRONOMIZANDO

Comigo contigo
Um lugar eu consigo
Partirei convosco
Levando conosco
O verbo sorrir.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

UM RESTO DE PRIMEIRA VEZ


            Fora dos nossos outonos, um caminho se abriu. Nossos dias seguiam sem reparar no tempo, cuja função é passar. Mudar a cor dos nossos pecados também é papel do tempo, mesmo nos bastando a cor da dor. Às vezes, penso pará-lo para contemplar no inesperado um resto de primeira vez.
A janela da nossa percepção se fechou, fugindo dos outonos. Era preciso inventar um atrativo. Deixar escapar o encanto é desperceber a vida que trabalha em segredo para que a beleza floresça nos segundos. Desatentos, deixamos escapar um sorriso que espalha cores pelo corpo. 
Cabíamos em todos os espaços, o viver revelava isso. Cada som, qualquer nota em qualquer andamento, era a celebração dos nossos riscos. Não se vive feliz sem correr riscos. Eu por agora corro o risco de errar as palavras, matar a frase e gerar uma incompreensão.
As nossas manhãs foram modificadas pelas notícias dos jornais. Dei-me um conselho: não leia os jornais se você não está neles. Funciona, mas sinto falta de leituras. Mesmo não querendo saber do outro, o outro já está em mim.
Grudei nas nossas tardes alguns preceitos: caminhar pela casa com um riso no coração tendo nos lábios um olhar de poesia. 

Nossa varanda, o sol visita todas as tardes. Espalhadas na sacada estão algumas flores, mas gosto dos pássaros que passareiam em mim sobrevoando o meu quintal. Seus gorjeios, seus cantos curtos, seus bateres de asas... Mesmo estando juntas, suas asas são independentes. A noite respinga seus sinais. No horizonte a claridade e a escuridade se ajuntam. Antes que escureça, as nossas mãos se procuram. Os dedos se entrelaçam... Há, sim, um resto de primeira vez.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

PATATIVA DO ASSARÉ - BIOGRAFIA

AOS POETAS CLÁSSICOS - POEMA.

Patativa do Assaré
(Antônio Gonçalves da Silva)

Poetas niversitário,
Poetas de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.

Eu nasci aqui no mato,
Vivi sempre a trabaiá,
Neste meu pobre recato,
Eu não pude estudá
No verdô de minha idade,
Só tive a felicidad
De dá um pequeno insaio
In dois livro do iscritô,
O famoso professô
Filisberto de Carvaio.
No premêro livro havia
Belas figuras na capa, 
E no começo se lia:
A pá — O dedo do Papa,
Papa, pia, dedo, dado,
Pua, o pote de melado,
Dá-me o dado, a fera é má
E tantas coisa bonita,
Qui o meu coração parpita
Quando eu pego a rescordá.


Foi os livro de valô
Mais maió que vi no mundo,
Apenas daquele autô
Li o premêro e o segundo;
Mas, porém, esta leitura,
Me tirô da treva escura,
Mostrando o caminho certo,
Bastante me protegeu;
Eu juro que Jesus deu
Sarvação a Filisberto. 

Depois que os dois livro eu li,
Fiquei me sintindo bem,
E ôtras coisinha aprendi
Sem tê lição de ninguém.
Na minha pobre linguage,
A minha lira servage
Canto o que minha arma sente
E o meu coração incerra,
As coisa de minha terra
E a vida de minha gente.

Poeta niversitaro,
Poeta de cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
Não vá recebê carinho,
Nem lugio e nem istima,
Mas garanto sê fié
E não istruí papé
Com poesia sem rima.

Cheio de rima e sintindo
Quero iscrevê meu volume,
Pra não ficá parecido
Com a fulô sem perfume;
A poesia sem rima,
Bastante me disanima
E alegria não me dá;
Não tem sabô a leitura,
Parece uma noite iscura
Sem istrela e sem luá.

Se um dotô me perguntá
Se o verso sem rima presta,
Calado eu não vou ficá,
A minha resposta é esta:
— Sem a rima, a poesia
Perde arguma simpatia
E uma parte do primô;
Não merece munta parma,
É como o corpo sem arma
E o coração sem amô.

Meu caro amigo poeta,
Qui faz poesia branca,
Não me chame de pateta
Por esta opinião franca.
Nasci entre a natureza,
Sempre adorando as beleza
Das obra do Criadô,
Uvindo o vento na serva
E vendo no campo a reva 
Pintadinha de fulô. 

Sou um caboco rocêro,
Sem letra e sem istrução;
O meu verso tem o chêro
Da poêra do sertão;
Vivo nesta solidade
Bem destante da cidade
Onde a ciença guverna.
Tudo meu é naturá,
Não sou capaz de gostá
Da poesia moderna.

Deste jeito Deus me quis
E assim eu me sinto bem;
Me considero feliz
Sem nunca invejá quem tem
Profundo conhecimento.
Ou ligêro como o vento
Ou divagá como a lesma,
Tudo sofre a mesma prova,
Vai batê na fria cova;
Esta vida é sempre a mesma.



Patativa do Assaré
Poeta popular
Patativa do Assaré (1909-2002) foi um poeta popular, compositor, cantor e repentista brasileiro. Foi um dos maiores poetas populares do Brasil. Cearense de Assaré, teve sua obra registrada em folhetos de cordel, em discos e livros. Aos 16 anos comprou sua primeira viola e começou a cantar de improviso. Com uma linguagem simples porém poética retratava a vida sofrida e árida do povo do sertão. Projetou-se com a música "Triste Partida" em 1964, uma toada de retirantes, gravada por Luiz Gonzaga, o rei do baião. Seus livros, traduzidos em vários idiomas, foram tema de estudos na Sorbonne, na cadeira de Literatura Popular Universal.
Patativa do Assaré (1909-2002) nasceu no município de Assaré, interior do Ceará, a 623 km da capital Fortaleza. Filho dos agricultores Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Ainda pequeno ficou cego do olho direito. Órfão de pai aos oito anos de idade, começou a trabalhar no cultivo da terra, para ajudar no sustento da família. Com pouco acesso à educação, frequentou durante quatro meses sua primeira e única escola e sem interromper o trabalho de agricultor, aprendeu a ler e escrever e se tornou apaixonado pela poesia.
Logo começou a fazer repentes e se apresentar em festas locais. Antônio Gonçalves da Silva recebeu o apelido de Patativa pois sua poesia era comparada à beleza do canto dessa ave. Foi casado com Belinha, com quem teve nove filhos. Com vinte anos começou a viajar por várias cidades nordestinas e diversas vezes se apresentou na Rádio Araripe.
Com uma linguagem simples porém poética, retratava em suas poesias, o árido universo da caatinga nordestina e de seu povo sofrido e valente do sertão. Viajou para o Pará em companhia de um parente José Alexandre Montoril, que lá morava, onde passou cinco meses fazendo grande sucesso como cantador. De volta ao Ceará continuou na mesma vida de pobre agricultor e cantador. Sua projeção em todo o Brasil se iniciou a partir da gravação de "Triste Partida" em 1964, toada de retirante de sua autoria gravada por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Teve inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas e jornais e publicou "Inspiração Nordestina" (1956), "Cantos de Patativa" (1966). Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados em Patativa do Assaré (1970). Gravou seu primeiro LP "Poemas e Canções" (1979) uma produção do cantor e compositor cearense Fagner. Apresentou-se com o cantor Fagner no Festival de Verão do Guarujá (1981), período em que gravou seu segundo LP, "A Terra é Naturá", lançado também pela CBS.
A política também foi tema da obra e de sua vida. Durante o regime militar, ele criticava os militares e chegou a ser perseguido. Participou da campanha das Diretas já, em 1984 e publicou o poema "Inleição Direta 84". No Ceará, sempre apoiou o governo de Tasso Jereissati, a quem chamava de amigo.
Ao completar 85 anos foi homenageado com o LP "Patativa do Assaré - 85 Anos de Poesia" (1994), com participação das duplas de repentistas Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amâncio e Otacílio Batista e Oliveira de Panelas. Tido como fenômeno da poesia popular nordestina, com sua versificação límpida sobre temas como o homem sertanejo e a luta pela vida, seus livros foram traduzidos em diversos idiomas e tornaram-se temas de estudo na Sorbonne, na cadeira da Literatura Popular Universal, sob a regência do Professor Raymond Cantel. Contava com orgulho que desde que começou a trabalhar na agricultura, nunca passou um ano sem preparar a sua rocinha, a não ser no ano em que foi ao Pará.
Patativa do Assaré, quase sem audição e cego desde o final dos anos 90, o grande e modesto poeta brasileiro, com apenas um metro e meio de altura, é acometido de uma pneumonia dupla, além de uma infecção na vesícula e problemas renais.
Antônio Gonçalves da Silva morre em consequência de falência múltipla dos órgãos, no dia 8 de julho de 2002, em sua casa, em Assaré, Ceará, aos 93 anos. Patativa é enterrado no cemitério São João Batista, na sua terra natal.
FONTE:

segunda-feira, 5 de maio de 2014

GRANDES AMIGOS (Mini-conto)


Eram três os meus melhores amigos, mas eles mudaram. Um está em Curitiba, outro reside em Salvador e o terceiro aqui.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

DORMIR


DOi



Indisposto ao corpo
Eu me carrego torto
Quando vem o sono

E como quem a si ama
Me deixo achar a cama


 E me abandono.