Ele estava chorando quando sentei ao
seu lado. Sem saber a razão, também chorei. Moro na fronteira do meu eu. Sou
mau e sou bom. Dependo de saber de qual lado estou. Não sei dizer muito. E o tudo
que poderia ali pronunciar, preferiu se calar. Situava os sentimentos do menino em todos os lugares. Estava em mim. Estava no silêncio do mundo. No silêncio
das pessoas. No silêncio de um olhar. No barulho dos passos das pessoas que passavam, observando-nos sentados na calçada. Estava no silêncio dos que olham o mundo com
pressa e no agito dos que sentem o mundo devagar.
Tanto eu quis dizer, mas não falei.
As palavras se ajuntavam descoordenadas na minha mente. E tudo que sobreveio
foi a intenção de um gesto. Não! Não foi um abraço. Nem afagos de mãos. Foi
silêncio. Foi a calçada dividida. Foi o nosso olhar raspando o sol que se
despedia. Foram as indagações arregaçando os sentimentos, sentindo o que
ninguém mais sentia. Enxergando o que ninguém mais via.
Éramos “singular plural”. Um “nós”
singular. Desafeiçoados do mundo.
Não éramos conhecidos. Nem de fala,
nem de vistas. Mas ajuntamos ali as emoções, sem saber a causa.
Tínhamos uma
causa: chorar.
Tínhamos os
mesmos cenários. Tínhamos as mesmas dores. Humanas. As pessoas iam e vinham.
Outras atravessavam a via, vindo e indo. Às vezes, as mesmas pessoas cumpriam o
mesmo trajeto, seguidas vezes.
Com o olhar molhado, nos olhamos.
Envergonhados, escondemos o rosto e retornamos ao diálogo das lágrimas. Após
cinco minutos, um abraço nos colocou no seio da vida. Voltamos a ser ruídos.
Sem nos olhar, caminhamos por vias opostas levando conosco o silêncio que nos
colocou no choro do mundo.
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