sábado, 4 de outubro de 2014

MÁQUINA DE FAZER PÃO


            Observei o Sr. Arlindo conversando com a minha avó. Ele deixou uma caixa em cima da mesa e avisou, pode instalar e usar quando quiser. Minha avó abriu um sorriso ainda maior ao que estava estampado no rosto. Minha curiosidade descambou por minha alma, o que seria? Perguntei e, algumas vezes, ela apenas sorriu.
            Fui morar com a minha avó quando ainda tinha sete anos. Meu pai não sei quem é, a minha mãe anda por aí sem se lembrar de nós. 

          Quando as coisas se agravavam, e isso acontecia repetidas vezes, o Sr. Camilo nos bancava emprestando algum dinheiro para comprar comida e também para pagar os meus livros. Quando eu buscava algum trabalho, minha avó dizia que era para terminar os estudos e que menino deve estudar para ser alguém na vida. 
       A escassez em casa não me privava de ser alguém.  Faltavam a nós dinheiro, roupa e comida, mas não nos faltavam coragem de cantar e sorrir. Às vezes sorríamos de coisas bobas. Sivuca, o nosso gato, adorava correr atrás das baratas e isso nos desviava da aflição.
            Naquela tarde a minha avó recebeu a sua encomenda. Durante um ano ela economizou da sua aposentadoria alguns trocados para realizar o seu sonho. As vizinhas já tinham uma máquina de fazer pão, faltava uma para a minha avó. 
          Penso que todas as donas de casa daquela região tinham um utensílio daquele. O Sr. Arlindo instalou a máquina na cozinha, e no meu coração, instalou a esperança. Não tínhamos muito que comer, mas tínhamos uma máquina de fazer pão.





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