sábado, 29 de novembro de 2014

Livro em lançamento - Site da Editora

Autor - NILL CRUZ

Ano - 2014

Gênero - Contos e Crônicas

ISBN - 978-85-8273-984-6
    Páginas - 156




Avaliador Verificado
http://editoramultifoco.com.br/loja/produto/para-ler-enquanto-espera/

http://www.livrariacultura.com.br/p/para-ler-enquanto-espera-42751234
PARA LER ENQUANTO ESPERA
PARA LER ENQUANTO ESPERA (entre contos e crônicas) é mais uma grande obra do querido poeta Nill Cruz. Em linguagem fácil e poética, os textos retratam universos muitas vezes invisíveis a olhos menos atentos, mas percebidos e sentidos pelo poeta. Através de uma leitura agradável, passeamos entre textos reflexivos, interessantes e com um lev
e toque de humor. Textos como PRECISO APRENDER A FICAR COMIGO, DIAZANDO, e O OUTRO LADO DE UM LADO revelam a facilidade do autor em brincar com as palavras, para encontrar a que mais se aproxima do sentimento que deseja exprimir. A obra leva o leitor a refletir também sobre as experiências do cotidiano, com as chateações e as decepções do dia a dia, narradas de forma poética e leve, proporcionando uma leitura prazerosa e fazendo pensar. Textos inteligentes e bem humorados como QUEM ESPERA SEMPRE ALCANÇA mostram-nos novas formas de enxergar uma mesma realidade. Que o leitor possa desfrutar dessa leitura e penetrar nesse universo aqui narrada. Read Less

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

VERÔNICA ME FEZ SABER

VERÔNICA ME FEZ SABER


Seu olhar me gritou. Seu sorriso me trouxe ao mundo. Tudo estava “de repente” e, naquele espaço, adolescentes brincavam. No meio de tantas falas, uma frase me conectou à vida: “Eu quero Jardins”. A vida precisa de jardins em todos os tempos e em todos os passos das pessoas. Pensei, sentindo a elevação do tempo em mim. Na intenção de melhorar o meu ser, esqueci que no fundo queremos jardins. É interessante observar uma multidão, cada um segue em uma direção e no final encontram os seus propósitos. Meus passos não seguiam para lugar nenhum, meu coração sim. Parado e com uma caneta na mão, segui uma estrada dentro de mim: as palavras. No momento em que me localizei, sentado, plantei flores. Meu jardim estava árido, as flores murchavam e os canteiros precisavam de uma reforma. Olhai os lírios do campo, Jesus disse quando a multidão lhe apressava. Eu queria pressa e Verônica, jardins.
Os alunos se afastavam lentamente, rumo às salas. As horas iam se desgastando e os segundos matavam o tempo que passava sem querer saber que eu queria “jardins”. Diante dos meus olhos, uma folha em branco encheu-se de júbilo, sabendo que receberia flores em forma de palavras, e foi isso que plantei. Rabisquei-a. As flores brotaram... Ganharam vida...
A folha pareceu sorrir quando Sabrina a tocou. Leu, e o poema fora entregue à menina, que jogando, queria jardins.
Sabrina e Verônica leram o texto em voz alta. Meu coração se derreteu com a surpresa. Faltavam tantas coisas em mim naquela manhã em que eu deixara o hospital. Mas Verônica me fez saber, eu também quero Jardins.


 

sábado, 15 de novembro de 2014

MEU PRIMEIRO QUADRO


Os olhos como faróis, atentos aos meus movimentos. As expressões em seus rostos apontavam o efeito de “primeira vez”. A insegurança, o falar embaraçado semelhante às emoções de quem está apaixonado e a escrita desalinhada eram tudo em mim. Gastei dias me preparando para estar ali e quando esse fato ocorreu num segundo se apagou. Os olhares, feito luz que acompanha um ator num teatro, me seguiam, acho que me viam por dentro tamanha a observação. O começo dói. Começar o começo é dor maior ainda. Um olhar de paciência se distinguia ao meio dos faróis atentos. Quando me perdia na fala, aquele olhar me indicava uma direção. A professora me ensinava sem usar as palavras. Por dentro eu gritava com as horas para que elas passassem de repente, mas em vão. Meus olhos me dissolviam olhando o quadro em branco. O nervosismo tinha um apagador e a precisão tinha um pincel nas mãos. O compromisso exigia que as mãos escrevessem o que a cabeça não guardou. Há momentos em que a gente sorri porque chorar é a mesma coisa. Os sentimentos se equivalem. Os alunos não me deixaram receoso, nem a professora me deixou acanhado. O meu medo era de um quadro em branco, ameaçando a primeira aula de um professor. 
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terça-feira, 11 de novembro de 2014

O SENSÍVEL


               
Ele era sensível, tinha que ser avisado, de uma vez ou aos poucos. Passou muito tempo vendo seus direitos e inventando alguns. Não falava muito, não sorria muito, não se importava muito, nem se deixava influenciar. Às vezes gastava horas pensando em como fugir de uma conversa tola. Sabia que tolos existem em todos os lugares, até mesmo onde residem os doutores. Era capaz de distinguir uma nota no som de uma buzina escapando na rua. Reconhecia de longe quando alguém pretendia gastar seu tempo com conversas à vista. Conversa fiada nem chegava até ele. Aliás, ele quis saber quem inventou a conversa fiada e teve que pagar adiantado para aprender com os livros. Mas o Jonas ele ouvia. E não era porque o rapaz se parecia com ele, mas porque o aceitava sem se preocupar com a sua diferença. Jonas sabia o tempo certo de passar pelo sinal antes que zerassem os números. Colocava o garfo do lado esquerdo, a faca do lado direito e o prato no meio. Quatro dedos afastados dos talheres. Mas o Jonas raramente almoçava em sua casa.
Ele era sensível e tinha quer ser notificado. Tinha como um dos hábitos ler palavras ao contrário. Alguém o avisou que faltava um ponto final em suas “reticências”. Um infarto o levou quando soube disso. Ele era sensível. Não sabia brincar com as reticências...


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

GENTE ESTRANHA


           Acendeu a luz. A janela era como um quadro escuro, tamanha a escuridão do lado de fora. A cabeça girando ainda pelas conversas que ouvira a respeito de si mesmo uma hora antes. Minuciosamente repassou em sua memória tudo que lhe fora falado. E se ele fosse o que as pessoas falavam? Guardou-se em si mesmo e foi olhar o espelho. Estava ficando calvo. Adquirira olheiras e o rosto estava com a pele ressecada. As orelhas cresceram algumas medidas e sua mente já não recebia novidades há algum tempo. E por falar no tempo, ele percebeu, também já não tinha mais tempo. Voltou subitamente o rosto para a janela, viu a escuridão e nela o temor de estar sendo observado. Caminhou como quem tem medo até a vidraça e fechou-a de uma fechada só. Cerrou as cortinas e com a impressão de que alguém o vigiava voltou para o espelho. Estava com o olhar vermelho, mas não havia chorado. Na festa, disseram que ele estava sofrendo por amor e que, preocupado, andava perdendo os cabelos. Falaram ainda que, por andar ansioso, respirava ofegante e isso lhe trouxera uma cor de sol no nariz. Sempre tivera o nariz avermelhado, mas a maioria só enxerga o imediato e não vêem que o depois tem um antes. Caminhou pelo quarto, tinha quase razão, estava sendo observado. Sentiu a pele arrepiando e um frio de pavor lhe percorrendo a espinha, mas controlou-se, não era de ter medo. Apanhou uma pequena tesoura e foi até a porta do quarto. Caminhou levemente, com o objeto em punho, evitando o mínimo possível de ruídos. Abriu delicadamente a porta. Como alguém que invade uma casa. Mas não saiu. Apenas esticou o pescoço e observou o corredor. Não havia ninguém. Fechou a porta empurrando com o pé e depois com a bunda. Voltou para o espelho. Com um pente fino apoiando aparou os supercílios. Apanhou duas fatias de gaze, dobrou-as, e com um prendedor especial prendeu-as nas ventas. Queria um nariz afinado, ninguém mais iria debochar do seu nariz batatudo. Aplicou um pouco de creme no rosto, queria ter cor de gente, pele de gente e... aspecto de gente. Com o rosto cheio de creme, caminhou até a porta. Não teve mais dúvida. Estava sendo observado. Caminhou na ponta dos pés até a janela, abriu-a de uma abrida só. A escuridão lhe invadiu os olhos. Não tinha ninguém. A gente fica estranho quando se olha demais no espelho e quando acredita cegamente nas pessoas. Ele estava sendo observado. Havia alguém frente ao espelho.