Ele era sensível, tinha que ser avisado, de uma vez ou aos poucos. Passou
muito tempo vendo seus direitos e inventando alguns. Não falava muito, não
sorria muito, não se importava muito, nem se deixava influenciar. Às vezes
gastava horas pensando em como fugir de uma conversa tola. Sabia que tolos
existem em todos os lugares, até mesmo onde residem os doutores. Era capaz de
distinguir uma nota no som de uma buzina escapando na rua. Reconhecia de longe
quando alguém pretendia gastar seu tempo com conversas à vista. Conversa fiada
nem chegava até ele. Aliás, ele quis saber quem inventou a conversa fiada e
teve que pagar adiantado para aprender com os livros. Mas o Jonas ele ouvia. E
não era porque o rapaz se parecia com ele, mas porque o aceitava sem se
preocupar com a sua diferença. Jonas sabia o tempo certo de passar pelo sinal
antes que zerassem os números. Colocava o garfo do lado esquerdo, a faca do
lado direito e o prato no meio. Quatro dedos afastados dos talheres. Mas o
Jonas raramente almoçava em sua casa.
Ele era sensível e tinha quer ser notificado. Tinha como um dos hábitos
ler palavras ao contrário. Alguém o avisou que faltava um ponto final em suas
“reticências”. Um infarto o levou quando soube disso. Ele era sensível. Não
sabia brincar com as reticências...
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