Quanto a mim, não quero mais voltar nas saudades, acho que você pensou
nisso. O tempo nos força a andar, não importa como devem ser os passos. Somos
confeccionados de ontens e tingidos de agoras, mas antes que venha o depois, os
momentos inesquecíveis abrem espaços. Para o amanhã se move a vida e para o
antes o viver. De que valem as lembranças se não podemos reconstruir as
estações? Você se lembra como acontecem as estações? Elas nascem do brilho do
primeiro encontro, antecipando a poesia que demora nas saudades. As
reminiscências têm valor de saudades, mas não se comparam às lembranças. Voltar
ao lugar de antes é do homem, lá está o melhor Melhor. Humanos vivem bem em locais imaginados, mas nós não estamos
imaginando, noto que você observa isso. A saudade é um olhar que demora por
dentro, pois lhe falta ainda o complemento do que foi digno. E o que foi digno?
Só o coração sabe contar, pois são dele as dores e as alegrias. As lembranças
moram nesses dois sentimentos. Sei que você sabe disso, pois não se lembra mais
dos momentos que não lhe provocaram estranheza... Penso que você cogitou isso,
mas não delongou nesse pensar, pois queria voltar nas saudades e num gesto de
refrigério quis parar o tempo, adiar o futuro e se deleitar no que passou.
Amanhã, se os caminhos se conectarem, quem sabe a gente possa sentar e falar
das estações, do olhar que demora por dentro e de saudades. Sei que você pensou
nisso e quer seguir o coração.