...ele assinou o contrato. Primeiro
de abril, ironia com a morte? Difícil explicar, já que são imortais os
escritores. A notícia me tomou os olhos e embrenhou por meus pensamentos
rasgando o desconhecido em mim. Tantas coisas poderiam “poder” se isso
acontecesse. Fiquei sabendo quem era George. Tal fato me tirou do lugar, afinal
precisava fazer alguma coisa, sentir o mundo, observar as minudências da vida,
antes que o homem expirasse sem terminar o seriado.
O meu cachorro elevou as patas,
apoiou-as em meu colo. Era hora do seu passeio.
Pela rua caminhou um homem carregado de premonições. O tempo marcava George
em mim. Em meus pensamentos elaborei uma lista de coisas a serem feitas caso
George viesse a morrer. O meu cachorro, feliz, voltou para casa sorrindo,
amenizando o George em mim.
Enfiei-me nas canções que o coração guardava, mas que há tempos eu não
exalava a coragem de cantá-las no meu silêncio. Nelas visualizei os amigos,
senti-os de longe... Liguei para alguns. Reparei no meu gato de um jeito novo,
escrevi uma canção e cantei para ele como se o bichano se importasse com a
música. Grudei no portão da minha casa um cartaz com palavras que há anos minha
esposa não ouvia. Assinei também um contrato comigo, nele estabeleci algumas
regras: que não deixaria de fazer as pessoas felizes, que leria os livros do
George RR Martin, que veria o seriado Game of Thrones, que escutaria o sorriso
do meu cachorro, que escreveria uma crônica e que dormiria mais cedo, ouvindo
um blues na voz do B.B King.