Seu rosto em três dimensões. Fingindo não ver o ser que
a olha. O que é preciso para obter sua atenção? Na sua fotografia sou retrato,
também em três partes. A primeira, o tempo. A segunda o pensamento e a
terceira, penso descansar um sentimento.
Almejo estar do lado de lá onde repousam os seus
cabelos. Mas não quero escapar do lado de cá onde contemplo a sua imagem.
Estático.
Similar a um avaliador de quadros, ausento de mim,
levado pelas minúcias do seu rosto. Quase sinto a sua pele. Descanso em cada interstício.
Demoro na circunferência da sua boca, desenho seus lábios... Tocá-los. Lúdico
querer. Impossível imaginação.
Prossigo até onde os olhos permitem. Vou de curvas em
curvas, tocado pela barroca luz. Cada parte esboça uma cor em tons de
mistérios. Também sou três metades. Duas que saem em busca da vida e uma que
espera um porto seguro. Na brincadeira com fotografias, nos escondemos.
Inventamos e damos asas à criação. Queremos ser totais, mas no fundo, desejamos
a nós mesmos. Entre formas e imagens, adolesce a poesia esperada na metade do
corpo de uma mulher fotografada. Os adornos são simples. Não é preciso
enfeites, pois não há na vida nada que enfeite a beleza natural de uma
mulher.