quinta-feira, 12 de junho de 2014

DEPOIS EU CONTO OS DIAS


            O sábado chegou. Só então percebi: haviam se passado duas semanas. Os dias escoaram pelas fendas da minha alma. Mas não foi por culpa do tempo passando sem me esperar segui-lo. Espero tanto pelo amanhã que me falta coragem para me inundar das alegrias de ‘um hoje’. Em quais fenômenos meus pensamentos demoram mais? Se sei, não sei. Sei tão pouco de mim, mesmo sondando o meu pensar. Ter amizades leais. De pouco tempo ou de tempos longos. Gastar tempo cultivando amigos sem esperar trocas. Seria assim a vida, mas somos tão parte um do outro que um silêncio inesperado embaraça os nossos futuros. Não sei qual distância separa dois seres, a distância da comunicação ou a distância do entendimento. Os acontecimentos nos caminhos alteram a razão de um homem. De qual lado se lê um palíndromo? Li em minhas esperas um desejo por palavras. Nos dias atuais, sentimos mais que ouvimos. Os amigos já não falam mais aquelas falas de ouvir, escrevem-nas e as palavras eu as leio como se as ouvisse.
Ana Marisa não havia escrito nada.
Depois de meses intensos de conversas e risos, vi desaparecerem minhas convicções. Há momentos em que a certeza também se enche de dúvidas. O oposto também vale, a dúvida crê nas suas certezas. Não sei descrever o sentimento de como as pessoas chegam até nós, sei da dor abrupta de uma retirada. No princípio, aproximamos pelo carisma e se permanecemos é porque nos valeu a atração. O encanto não cobra interesse, mas para ter interesse é necessário que haja encanto. Somos a intermitência do tempo. Situado entre a presença e a ausência.
Quinze dias sem notícias.
Depois que se instalam na gente, as pessoas não se ausentam mais sem deixar ranhuras. As esperas reclamam. As procuras se agitam buscando respostas. Abri a caixa de entrada e fui à busca de algum recado. Mais um dia sem sinal. O meu último recado ainda estava lá, buscando ser lido. A derradeira frase dela também estava lá, ‘escritando’ o tempo em mim.

            Aos domingos o dia não precisa amanhecer. Dormir até tarde me eram os planos costumeiros, mas preferi levantar e reler a última conversa. Na verdade esperava vê-la “on”. Falar com ela sobre os meus tempos e proclamar a sua ausência contando os dias. Antes que eu pudesse abrir o chat, algumas buzinadas no portão. Ela viajou para me ver. Estava “on” na minha sala. Eu estava “on” no seu abraço. Depois de já estabelecida a surpresa, a alegria da sua presença deixou “on” na minha cabeça: ser feliz quando você chega, depois eu conto os dias.