terça-feira, 17 de junho de 2014

NOSSA LINDA CANÇÃO


NOSSA LINDA CANÇÃO



Na manhã que acabara de nascer, a gente escolhia fotos. O tempo escorria devagar por entre os nossos diálogos. Nenhuma imagem preenchia o coração dela. Em mim restava a procura. Estar perto era melhor que todas as imagens selecionadas. Nossos risos se tocavam, nossos pensamentos se compreendiam e os nossos acenos se buscavam como notas compondo uma melodia. Eu não estava ali pela manhã que sorria merecendo um verso, mas pela proposta de colher uma bela imagem. No vão das outras coisas a serem feitas, me deixei escapar. Há momentos que são únicos. Todos os momentos são únicos. Escolher fotos era um desses momentos.
A canção que tocava do outro lado da rua era a que precisava tocar dentro de nós. E tocava. Sem ser preciso parar a escuta. 
 Vivemos à busca de instantes para que não percamos as lembranças de um dia. A música tem esse poder, o de levar-nos a lugares distantes, dentro de nós, em poucos segundos. E sem que a gente queira, lá procuramos o que nos alivia já.  As reminiscências não precisam ser de ontem, basta gostarmos dos segundos de um “ainda há pouco”. Quanto tempo dura um “agora”? Agora mesmo já toco o inesperado. Uma fotografia procurada é inesperada. Mesmo sendo a mesma. O inesperado está no olhar da segunda vez.

 Seus olhos não me olhavam, mas sei que me via pelas palavras. Vi o azul se destacando em suas vestes e senti o céu ingressar em meus labirintos. Ela exalava ternura e graça. Sua voz com maciez de Bossa Nova e seu olhar de melodia que move os acordes eram a poesia procurada nas imagens, a completar o seu poema que acabara de nascer.