Eu
só olhei para eles. Acho que bem lá no fundo eles também me olharam, com olhos
que eu não podia ver. Senti ali, pelo instinto que me fez chegar e demorar aos
seus pés, seus olhos invisíveis, carregados de mistérios. Sei que havia gritos
em suas almas e que vozes de sabedoria rasgavam os seus silêncios. Eles se
parecem com os humanos. Têm corpos, têm silêncios e suas palavras são audíveis.
Eles se abrem e se fecham, dependendo de quem se aproxima. Falam apenas quando
são procurados. São discretos.
Nossos silêncios conversavam
enquanto nos admiravam.
Como quem chega cheio de anseios,
ergui a cabeça e contemplei-os. Estendi as mãos e ameacei tocá-los. Eles
pareceram sorrir, mas quem riu foi o meu coração. Há quanto tempo estavam ali?
Será que conversavam entre eles e falavam de mim? Tenho uma leve sensação que
mencionam o meu nome quando a semana passa num gotejar de tempo. Sei que demoro
vê-los, quase não apareço, mas o meu coração procura por eles instintivamente.
O Eu que sou hoje foi modelado pela sabedoria dos seus dizeres.
Estavam na estante. Pensei folheá-los, cheirá-los... Sentir sua textura.
Tem gente que gosta de cheirá-los quando estão novos, outros preferem um cheiro
velho, eu prefiro amar seus cheiros em todos os tempos. Os homens nascem livres
para tantos desejos, visitar livros é o meu maior gosto. Eu estava ali com o
coração estendido a eles, no intento de tocá-los, com toques demorados, um por
vez, mas no meio de tantos anseios, eu só olhei para eles, com demorada visão.