SE EU TIVESSE VOCÊ...
Pergunto
o que houve, recebo um meneio de cabeça. Nada. O vazio se explica com um gesto.
O não e o sim são uma cruz. Por que nos gestos o sim é vertical e o não é na
horizontal? Pergunto novamente, recebo outro meneio. Leve, mais longo e firme.
As perguntas roendo a convicção e o tempo pressionando, quase dizendo: corre,
porque se fosse eu, voava atrás. Pergunto se sei correr, os meneios divergem.
Insisto, então, sei voar? Como um pêndulo de um antigo relógio, leio os
meneios. Alheio a minha aceitação. As perguntas acabam, surgem então as
respostas. Elas são muitas, mas não respondem. A sabedoria nos deixa sozinhos
quando precisamos dela. Ao insistirmos, se esconde, acho que para fortalecer um
desespero.
Sobram-me os meneios.
A imagem clara me leva sem que eu queira ir. Tenho tempo, tenho escolhas,
tenho buscas, mas tenho distâncias. Qual a distância de um “distante”? Os
meneios se renovam. Prossigo. Tenho planos e preciso me mover, para qualquer
lugar. Mas não quero ir longe, me basta apenas a extensão de um sim.
Tenho distâncias que se asfaltam e
estradas que esburacadas se fundem, mas gosto dos caminhos que se inventam por
querer um sim. Não é nada mais, mas, mais nada é não. Eu vejo pelo coração que
sente.
Levanto a cabeça e com um meneio na
vertical declaro sim. Conversar comigo dói. Faço muitas perguntas.
Caminho em direção à porta sabendo que o tempo se encarregará de
responder sem pressa as minhas indagações de agora. Abro a porta e me deixo ir.
A fim de falar de amor e ouvir as palavras que ela vai me dizer. Se eu tivesse
você, eu não falaria comigo assim quando estivesse só, nem meneava a cabeça na
horizontal, porque amor é isso: não entendemos a gente quando o outro chega.