terça-feira, 11 de novembro de 2014

O SENSÍVEL


               
Ele era sensível, tinha que ser avisado, de uma vez ou aos poucos. Passou muito tempo vendo seus direitos e inventando alguns. Não falava muito, não sorria muito, não se importava muito, nem se deixava influenciar. Às vezes gastava horas pensando em como fugir de uma conversa tola. Sabia que tolos existem em todos os lugares, até mesmo onde residem os doutores. Era capaz de distinguir uma nota no som de uma buzina escapando na rua. Reconhecia de longe quando alguém pretendia gastar seu tempo com conversas à vista. Conversa fiada nem chegava até ele. Aliás, ele quis saber quem inventou a conversa fiada e teve que pagar adiantado para aprender com os livros. Mas o Jonas ele ouvia. E não era porque o rapaz se parecia com ele, mas porque o aceitava sem se preocupar com a sua diferença. Jonas sabia o tempo certo de passar pelo sinal antes que zerassem os números. Colocava o garfo do lado esquerdo, a faca do lado direito e o prato no meio. Quatro dedos afastados dos talheres. Mas o Jonas raramente almoçava em sua casa.
Ele era sensível e tinha quer ser notificado. Tinha como um dos hábitos ler palavras ao contrário. Alguém o avisou que faltava um ponto final em suas “reticências”. Um infarto o levou quando soube disso. Ele era sensível. Não sabia brincar com as reticências...