sábado, 20 de dezembro de 2014

AS MANHÃS DO MEU OUTRO LADO


Abro a manhã, o dia é uma janela. As nuvens se espalham e lentamente acordo. Sou eu dentro de mim. Do lado de fora também há Eu. Com um pouco de tudo do mínimo das pessoas. O tempo se alarga e as pessoas se misturam. Mais adiante eu me misturo a elas e, se não me controlo, perco o Mim. Temos ouvidos demais. Com duas orelhas para ouvir é fácil se perder da gente. Olhos, orelhas e coração são palavras amplas. Maior ainda é o Sentimento que cabe no Mim, mas não se encaixa no Eu. Ele não vem só, traz junto os seus agregados e insere no Eu coisas que não devem caber. Escavo-me. Acho que todos nós somos uma estrada e por ela passa tanta gente. Passam no Passou, surgem no Passando e ficam para o Tempo que não chegou. E como são lembradas?
Abro manhãs. Elas são janelas. Por elas vejo pessoas em todos os tempos, caminhando em mim.
Ganho de presente uma frase: “Se a solidão incomoda, é preciso mudar mesmo; desde que a mudança não mude quem você é”. Leio. Guardo as palavras. As manhãs do meu outro lado se veem protegidas. Alguém enche o meu ser de ternura, nos tempos do meu outro lado.