O POEMA E A PROSA
Meu poema se
mistura à prosa. Sou Eu e as Palavras. Entre nós, a folha em branco, sorrindo
da nossa desarmonia. Quero uma imensidão de palavras. Quero despejá-las sem ter
de conviver com elas. Mas, as palavras não nascem nos ventos, nascem dentro da
gente e derramá-las é um risco. É necessária uma convivência, ainda que breve,
um virar de página, um estilar de tempo.
Tudo é um
texto.
Crianças no
parquinho se espalham. Entre os brinquedos, uma menina flutua. O balanço vai e
volta. Vai e volta. Num voltar preciso, sem se negar. O pai criando os
movimentos. Tocando leve a criança, impulsionando-a, como se tivesse que
tocá-la para demonstrar presença. A moça, lendo um livro, tem a sua própria
cadeira e muda conforme lhe aborrece o sol. O facho de luz, inventando espaços
entre galhos e árvores, ofusca a leitura. O texto que preciso está em algum
lugar do lugar. Mas, procuro-o em mim. Quero um poema. Meus olhos desenham
cenários, inventam conclusões, trazem para dentro uma vastidão de pensares.
Imagens, conceitos, pré-conceitos e tradições balançam a mistura que sou.
Quando encontro um equilíbrio, esbarro nas regras. Confiro as horas no celular
e levanto as vistas. Encontro um texto.
Meu olhar se enche de poesia. Quero poucas palavras para descrever a
cena. A imagem não cabe descrita num poema. A menina, cortando as unhas da avó,
saúda-me com um sorriso, ajuntando em mim o tempo das gerações. O início
cuidando do fim. Seu carisma reúne as palavras em prosa para a minha crônica
procurada.
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