segunda-feira, 27 de abril de 2015

REFLEXÃO SOBRE O SIM E O NÃO  



Tenho a impressão que a gente acorda Sim, se levanta Não e se desperta na possibilidade da Escolha. Que durante o dia, a gente é todo Sim, é todo Não e entre esses dois símbolos, a Escolha. Na verdade, não somos apenas água, carne e osso, somos Escolha.
Guardo essa inquietação, que o Sim é fulgente, o Não é claro e a Escolha, um árbitro. Que a alma existe, o espírito vive e o corpo é Escolha. Isso se resume em segundos, em cada movimento. A gente demora no Sim, demora no Não e se a escolha demora, vira um Talvez. Durante o dia a gente diz não para o Sim, alguns segundos depois, diz não para o Não. O Talvez fica a decidir quando é sim para Sim e quando é não para o Não: talvez sim, talvez não.
A Escolha, quando escolhe, às vezes recebe um não do Não ou um sim do Sim, mas toda decisão, mesmo sendo um não, é um sim.  Concordar já é um Sim, mesmo que por dentro o Não grita não.
Sinto por dentro que o Sim quer ser o Não e que o Não deseja ser o Sim. Nós, que vivemos de espelhos, queremos ser quem imaginamos. Imagine a dor de um Sim dizendo sim para a morte de quem faz o bem, imagine a dor de um Não dizendo não para a morte de quem só faz maldades. Ah! Mas eles também decidem juntos: imagine a luta do Sim e do Não tentando impedir que a Escolha deixe um indivíduo Assistir o BBB, ouvir alguns funks ou gastar tempo com televisão?
Tenho mesmo a impressão de que, entre o Sim e o Não, a Escolha é uma intermitência, e que esses gêmeos são palavras sábias quando a vida nos cobra a sabedoria.


terça-feira, 21 de abril de 2015

SEM INTERROGAÇÕES


 
Por que Nasci. Por que Esses são os meus pais. Por que Esse é o meu país, aqui é a minha cidade e essa casa é a minha casa. Por que Cresci lentamente e lentamente quis ser logo adulto. Por que Cresci e o crescimento me doeu tanto, tanto que agora quero voltar a ser menino. Por que Passei pelo que passei...
Por que A noite chegou. Por que Adormeci. Por que Acordei e por alguns minutos fiquei sentado na cama até me despertar. Por que Lavei o rosto antes de tomar o café e logo depois voltei ao banheiro para escovar a boca e tirar o restinho de bolacha grudada nos dentes. Por que Tenho de colocar uniformes, andar de carro por alguns minutos, chegar à escola e perceber-me: igual aos demais.
Por que O despertador tem o som de uma canção.  Por que Mesmo que amanheceu. Por que O sol atinge o meu rosto rompendo a fresta de uma janela com vidro fumê. Por que Deixo que a luz me acaricie o rosto, percebo a brisa e levanto feliz.
Por que Ajeito a gravata diante do espelho, observando em meu rosto os muitos agoras que o tempo plantou. Por que Estou no trabalho, mas observando as pessoas que passam no corredor. Por que Chego sem pensar a cozinha, apanho a garrafa de café e retiro dela a última gota. Por que Tomo café e ouço assunto sem interesse. Por que Aceito ouvir, aceito a falta de café, aceito tomar o chá, sem interrogações.
                                     Obs: Esse texto foi escrito para que se fizesse três tipos de leitura: 1º com o por que                                                           de perguntas; 2º com o porque de respostas, 3º leia sem os porques                                      
 

domingo, 19 de abril de 2015

REFLEXÃO SOBRE O SILÊNCIO




Talvez seja silêncio o que vou dizer, não sei descrever gestos. Ele conversa sem parar. Ouço ruídos, sons onomatopeicos. Para conversar é preciso fixar vista, para entendê-lo é preciso muitas horas de estudos. Eu não tenho essas horas. Observo, ele, com um notebook na mão, digita numa velocidade impossível. Adapto-me à humilhação. No teclado, meus dedos têm a velocidade das leis do meu país. Ele abre um chat e conversa como gente “normal”, fazendo gestos e sons. No momento observo uma colega com o telefone no ouvido apontando a direção de uma casa comercial. Ela também usa sons onomatopeicos e interjeições na fala. Semelhante, sou silêncio, observação. A colega desliga o telefone e conversa com ele. A conversa não me interessa. Sou acostumado aos sons. Volto a ele. Sinto outra vez a humilhação: ele digita num celular, fala para a câmera no notebook, separa seu material de trabalho, eu, me perco numa coisa só e preciso repetir várias vezes a leitura do meu texto. Outras pessoas invadem a sala, conversam com ele. Os sons são poucos. Eu o conheço de outros tempos, já estivemos ligados num mesmo gosto. Agora somos parte de uma equipe. As pessoas conversam com ele, é preciso que ele fale, não pode haver invasão de fala. A conversa só acontece se houver olhos nos gestos. Quando ele fala as pessoas observam, quando as pessoas falam ele fixa o olhar. Assim, com atenção. No momento amarroto-me pensando no vazio da pressa dos nossos dias. Prestaríamos melhor atenção se fôssemos surdo/mudos.

 

terça-feira, 7 de abril de 2015

REFLEXÃO SOBRE O TALVEZ




               Tem palavra que toma a gente por inteiro, por um instante ou por alguns dias. Quem nunca esbarrou num Talvez? Mesmo que, Talvez, fosse um esbarro ou que o esbarro fosse um Talvez? O fato é que essa palavra Tal, é Vez em todos os tempos, em muitos mortais.
               O Talvez é um ir que não garante a certeza ou um ficar que não se instala, mas que promete uma possibilidade. O Talvez possui doçura no som! Mesmo quando machuca ouvi-lo, há no Talvez um grafo de esperança. Um Quem Sabe eu vou ou um Porventura eu fico, fica mais suave com um Talvez. 
               No reino dos advérbios o sufixo não mente, mas “mente” acompanha alguns e suposta ‘a’ mente um possivelmente, mente. 
Aparentemente um Por Certo pode induzir a uma certeza, mas se Acaso isso não acontecer, será melhor um Talvez. Eu não tenho dúvidas, tenho o Talvez. Quando o amor pronuncia um Talvez, o verbo esperar se enche de riso. Se a chegada não acontece a felicidade fica por conta do que foi imaginado. Se consumar o encontro, a alegria transborda.
               O Talvez é ambíguo, navega em tempos distintos. 
               Ouvir um Quem Sabe arranha mais do que um Talvez. Não se lê um Talvezmente, o que não seria uma inverdade, o Talvez mente. Ele se esconde nas possibilidades e amolda-se, aparentemente, no seu próprio Talvez...