sábado, 14 de fevereiro de 2015

OS TRÊS INÍCIOS.


       Quando os nossos olhos se encontraram nossos pés nem haviam tocado a esteira da escada rolante. Do alto, antes de tomar rumo, ela me olhava com olhos de encanto único. De baixo, eu era como o professor Girafales olhando dona Florinda.
Ela iniciou descer, eu iniciei subir. Ameaçamos por o pé na esteira num instinto único e nesse mesmo instinto, recolhemos o pé e voltamos a nos olhar, como quem nunca se olhou. As pessoas passavam sem invadir o alvo da nossa visão. Passavam sem perceber que havia dois olhares interditando o tempo. Ela se decidiu no mesmo tempo da minha decisão. Os pés foram alocados e o corpo se equilibrou, se adequando aos movimentos. Era certo que nos encontraríamos no meio da escada. Nossos olhos não fugiram. Nem por segundos buscamos lançar vistas ao nosso redor. A escada que subia carregava um elevado número de pessoas, a que descia contava com algumas crianças. Ela ajeitou os cabelos para um lado, depois para outro. Estava na minha direção, mas por outro caminho. Rumo a ela eu subia, contente ao saber que a veria de perto. A escada me levando a ela que descia para mim. Observei seu sorriso. Pensei nas pessoas que chegam, mas simplesmente passam. Será que eu se lembraria dos seus olhos castanhos, dos seus cabelos escuros e do seu sorriso cavando um riso meu? Nossos olhos se desviaram quando, a certa altura, a escada foi nos aproximando. Ela chegava. Nunca reparei nas pessoas que chegam. Jamais observei como as pessoas agem quando se aproximam. Também não pensei porque as pessoas se aproximam. Nem pensei em como é que se fica quando alguém que se espera vem chegando. Num chegar que traz a gente para dentro da gente e nos devolve para sorrir à vida.
Ela eu observei: escondeu os olhos, brincando com os cabelos me olhava sem me olhar. Coisas que só mulher sabe realizar.
A escada foi nos aproximando sem pressa. Encarei-a. Pude ver sua textura, sua palidez, seu batom cintilante e um anel no seu polegar direito.
Se aproximando.
Aproximados, nos olhamos como quem nunca se olhou.
            — Oi.
           — Oi – ela respondeu com um olhar que parecia me decifrar por dentro.
            A escada foi nos levando. Viro as costas para o meu rumo a fim de continuar apreciando seu encanto e percebo, ela também fica de costas, deixando-se ser levada como quem não quer mais ir. A gente se olha. Distancia-se. Eu subindo de costas, ela descendo como eu. Damo-nos as costas ao fim da escada e os nossos pés tocam o piso. Ela se vira. Nossos olhos se encontram mais uma vez, acompanhados de risos e gestos de mãos. A escada continua a sua missão. As pessoas continuam passando. Num passar que sobe e desce. A gente se perde pelos corredores.
            A lanchonete do shopping está como sempre, abarrotada. A tarde já se despede do domingo que passou devagar.
            — Oi, sou o rapaz que subia a escada.
            — Prazer – Risos – Sou a moça que descia a escada. – Sorrimos.



OS TRÊS INÍCIOS.


       Quando os nossos olhos se encontraram nossos pés nem haviam tocado a esteira da escada rolante. Do alto, antes de tomar rumo, ela me olhava com olhos de encanto único. De baixo, eu era como o professor Girafales olhando dona Florinda.
Ela iniciou descer, eu iniciei subir. Ameaçamos por o pé na esteira num instinto único e nesse mesmo instinto, recolhemos o pé e voltamos a nos olhar, como quem nunca se olhou. As pessoas passavam sem invadir o alvo da nossa visão. Passavam sem perceber que havia dois olhares interditando o tempo. Ela se decidiu no mesmo tempo da minha decisão. Os pés foram alocados e o corpo se equilibrou, se adequando aos movimentos. Era certo que nos encontraríamos no meio da escada. Nossos olhos não fugiram. Nem por segundos buscamos lançar vistas ao nosso redor. A escada que subia carregava um elevado número de pessoas, a que descia contava com algumas crianças. Ela ajeitou os cabelos para um lado, depois para outro. Estava na minha direção, mas por outro caminho. Rumo a ela eu subia, contente ao saber que a veria de perto. A escada me levando a ela que descia para mim. Observei seu sorriso. Pensei nas pessoas que chegam, mas simplesmente passam. Será que eu se lembraria dos seus olhos castanhos, dos seus cabelos escuros e do seu sorriso cavando um riso meu? Nossos olhos se desviaram quando, a certa altura, a escada foi nos aproximando. Ela chegava. Nunca reparei nas pessoas que chegam. Jamais observei como as pessoas agem quando se aproximam. Também não pensei porque as pessoas se aproximam. Nem pensei em como é que se fica quando alguém que se espera vem chegando. Num chegar que traz a gente para dentro da gente e nos devolve para sorrir à vida.
Ela eu observei: escondeu os olhos, brincando com os cabelos me olhava sem me olhar. Coisas que só mulher sabe realizar.
A escada foi nos aproximando sem pressa. Encarei-a. Pude ver sua textura, sua palidez, seu batom cintilante e um anel no seu polegar direito.
Se aproximando.
Aproximados, nos olhamos como quem nunca se olhou.
            — Oi.
           — Oi – ela respondeu com um olhar que parecia me decifrar por dentro.
            A escada foi nos levando. Viro as costas para o meu rumo a fim de continuar apreciando seu encanto e percebo, ela também fica de costas, deixando-se ser levada como quem não quer mais ir. A gente se olha. Distancia-se. Eu subindo de costas, ela descendo como eu. Damo-nos as costas ao fim da escada e os nossos pés tocam o piso. Ela se vira. Nossos olhos se encontram mais uma vez, acompanhados de risos e gestos de mãos. A escada continua a sua missão. As pessoas continuam passando. Num passar que sobe e desce. A gente se perde pelos corredores.
            A lanchonete do shopping está como sempre, abarrotada. A tarde já se despede do domingo que passou devagar.
            — Oi, sou o rapaz que subia a escada.
            — Prazer – Risos – Sou a moça que descia a escada. – Sorrimos.