sábado, 2 de maio de 2015

SOBRE'VIVER



            Vi. Ver é uma questão do viver. Vi e notei, nos meus olhos, incredulidade. Uma palavra, duas ações e um ato: viver. Vi e Ver são monossílabos, mas, viver é mais que dois sons e muito mais que dois atos. Dois verbos que se ajuntam para dar movimentos à existência. Vi e Ver no imperativo têm sons urgentes: vê-ja. Ver o que Vi é viver no aprendizado de que, apesar das coisas que Vi, preciso Ver o que acontece ao meu redor. Ontem eu Vi coisas que os meus olhos não anseiam mais Ver, mas também Vi casos que dão gosto de Ver.  Hoje eu vi fatos. E ver fatos como esses é uma desconstrução. É como se o momento perdesse a chance de apreciar o instante. O instante que não é já é passado. No Viver sofre-se porque viu, e entedia-se porque vê. Há inconstância no interstício, deslocação humana. Viver é um arrastar de alma, um descompreender do instante, um descambar do espírito, um estar que não está. Tudo é, mas também não é. É no “quando está” que se enxerga de verdade. Vi. Ver é recorte meu. Projeto-me, figuro-me, confecciono-me, me visto das verdades que são minhas, sem Wildiar. No ver está o tudo: a beleza e a feiura. A cor, o tempo, o tamanho, a extensão, a dimensão. O viver alegra-se no que viu e também no que vê. Vi e ver. O passado esbarra no presente, mas é instante. E ninguém é instante sem misturar as estações. A emoção captada ajunta os verbos Vi e Ver para sobreviver no tempo que não espera viver. Vi. Ver foi por acaso. Não estava ali por buscas de olhos, mas por automatismo. Vi. Ver esse tipo de acontecimento é fato deslegal. Meu mundo munda por coisas simples. Se perder no simples é sofistificação, no sofisticado é humildade. Temos os olhos abertos, sentimos o mal dos homens absolvidos pelos olhos da luxúria. A necessidade brota do que vi, do que vejo e o que vou ver. As possibilidades ameaçam o viver. Quem tem olhos fechados quer apenas ver. Sobre’viver. Eu estava ali. Registrando com meus registros castanhos: uma câmera e um espelho, entre os objetos, um homem. Parecia tão pouco o mundo, tão pouco o espelho, tão pouco a câmera, tão pouco o homem. Vi. Ver que uma selfie é a essência de ser visto, não cabe no viver do homem que sobrevive inventando verbos. 

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