domingo, 26 de julho de 2015

DE CONVERSAÇÃO


Elijanique Savil

— O que você sente por mim?
— Além de carinho? Hum... admiração?! Encantamento!? Muito ciúme talvez...
— Tudo isso? Poxa, não imaginava uma gama assim de sentimentos. Quando perguntei, eu esperava uma resposta assim... mais objetiva, entende? Não que eu não me sinta lisonjeado por lhe provocar tantas sensações, mas é que...
— Eu sei o que você queria ouvir. É só que eu sou um pouco tímida para falar dessas coisas profundas e indecifráveis. Acho que eu te amo! É isso.
— Me agrada profundamente ouvir que você “acha” que me ama, sabia?
— Não me expressei bem. Me desculpe. Preciso aprender a usar melhor as palavras. Algumas expressões me soam um tanto confusas e daí, eu me atrapalho às vezes para dizer as coisas. Só isso.
— Ok então. Mas, que tipo de amor você “acha” que sente por mim?
— Daquele tipo único que engloba todos os tipos nomináveis. Tipo assim, eu poderia ser qualquer coisa que você precisasse, entende? Uma irmã, uma grande amiga, uma super-protetora, uma amante...
— Hum... Esse termo soa muito bem em seus lábios minha querida! Fala mais vai. Alguns signos só fazem sentido para mim se proferidos por você!
— Que maravilha! É sinal que temos o mesmo código de comunicação. Mas enfim, o amor que tenho a você é da espécie que só se tem uma vez na vida. Algumas pessoas até se enganam dizendo amar das profundezas da alma duas, dez vezes na vida e a várias pessoas diferentes. Não duvido que sintam realmente uma variação de amor. Porque é perfeitamente possível amar com amor fraterno a um cidadão (e apenas fraternalmente), enquanto se ama eroticamente a outro. Tudo é amor e, alguém disse que toda forma de amor vale a pena. Concordo. Porém, prefiro a certeza de ter encontrado aquele amor sublime que engloba em si todas as formas possíveis. Sei que essa forma de amor vale muito mais a pena!
— Uau! Quando é que você começou a sentir que me amava assim?
— Como assim? Não se começa a sentir essa espécie sublime de amor por alguém, meu anjo. Desde o nascimento você já sabe a quem vai amar assim. Seu inconsciente passa toda a vida projetando aquele ser (im) perfeito, porém, com todas as características que merecem sua admiração, seu respeito, sua confiança e fidelidade. Você vai encontrar várias pessoas no planeta com aquele olhar que e cativa; outras tantas com o sorriso que exerce um encantamento indescritível sobre você. No entanto, só uma pessoa terá o olhar, o sorriso, a voz, o temperamento, tudo na medida que lhe agrada. E aí, você fica aguardando o momento em que vai cruzar com essa pessoa nos lugares mais improváveis que costuma frequentar: na fila do banco, no cruzamento de uma rua, numa tarde de domingo na praça ou outro lugar qualquer, no ônibus e, até mesmo no trabalho, aquele colega novo que lhe olha a distância e vai se aproximando paulatinamente. Sim, porque esse "amor" jamais será o garotinho, ou garotinha, que cresceu com você e de repente você passa a vê-lo com outros olhos. Isso pode ser uma paixão que depois de consumada fará você ver o/a coleguinha de infância com outros olhos, e outros, e outros, até um dia não querer nem ver novamente esse ser.
— O amor sublime é profundo e eterno...
— Sim. Eterno. Desde sempre, até sempre! Chega com você a este mundo e com você parte dele. Nem sempre temos a sorte de nos encontrar com o objeto desse amor. Mas sabemos que ele está em algum lugar nos esperando. Quando o encontramos, reconhecemo-no imediatamente. É exatamente dessa forma que te amo minha vida!
— Eu também.
— Sério? Não sabia que você bancava o tipo narcisista.
— Não entendi?!
— Narciso, aquele
— Sei quem é Narciso. Não entendi sua colocação...
— Tudo bem. Me deixa esclarecer: não há nada mais humilhante para uma pessoa que acabou de declarar, apaixonadamente, “eu te amo”, do que ouvir em resposta “EU TAMBÉM”.
— (...)?
— Você também o quê? Você também se ama? Você me ama de volta? Ou ficou constrangido por não ter nada a me dizer e saiu-se com essa expressão vazia para que eu interpretasse à minha maneira. Essa é uma tentativa de não se comprometer verbalmente ou...
— É uma tentativa de me comprometer de todas as formas possíveis! Eu também me amo! Eu também te amo! Eu também me amo mais porque te amo demais. Ou então eu simplesmente acabei de descobrir, a partir de seu breve discurso sobre o amor que eu nada sabia desse assunto e que, mesmo assim, te amava loucamente. Profundamente. Infinitamente. Imensurávelmente... Quer me oferecer a sua mão em casamento?
— Eu até ofereceria, mas, que proveito você teria em possuir apenas a minha mão? Assim, o que eu faria sem minha mão? Você não pensa que seria mais lucrativo ter-me inteira com você?
— Claro que sim! Então você é do tipo que a gente pede uma mão aí você oferece o braço?
— Não só o braço não é? Mais sim. Sou exatamente o tipo que você pensou.
— Que imaginei. Que sonhei. O tipo perfeito para uma viagem louca e eterna vida a fora. EU TE AMO!
— EU TE AMO ainda mais!
— Com que então você sabe como não responder eu também?
— Isso e outras coisinhas mais... Você vai ver como poderemos crescer juntos!
— Tenho certeza de que sim, meu amor.
— (...)
— Preciso voltar agora. Minha mulher está me esperando para o jantar.
— É. Eu preciso ir também. Meu marido já está chegando para o jantar. Vou dizer que tive que ir ao banco. Fila enorme...
— Ou que se atrasou no cruzamento da rua... Sinal fechado talvez... Não é?
— Talvez isso. Até mais minha vida! A gente se esbarra por aí qualquer dia.
— Sim, sim. Temos a eternidade para nos amar... Até qualquer dia, meu bem!

* Direitos concedidos por: Elijanique Savil.