Em minha direção
caminhava um jovem pela rua. Gesticulava como se cada palavra precisasse de um
gesto. Falava alto, sorria demoradamente, ficava sério. No momento seguinte,
apenas esboçava um sorriso. As vezes interrompia a caminhada, ficava imerso,
concentrado olhando o vazio. Meneava a cabeça. Voltava a andar e sorria um riso
alto puro de alegria. À distancia pensei ser uma encenação. Fui me aproximando.
Observei o rapaz com o seu caminhar pela rua, feliz, sem se preocupar com o
mundo. O moço carregava em si o que eu precisava em mim: o sentimento de andar
pelas ruas cantando alto uma canção qualquer; sorrir alto sem se preocupar com
quem não conhece o valor de um sorriso; Dar risadas, não do mundo, mas das
minhas tolices, exemplo: rir da tolice de rir como um louco pelas ruas sem se
importar com os olhares condicionados a rabugices. Ao observar o jovem,
convicto, conversei comigo. Até usei um novo falar: ele está falando comigo,
véi! Alguém aqui me conhece! As minhas convicções se desfizeram no momento em
que me aproximei dele. O rapaz percebendo-me, diminuiu o tom da voz. Diminuiu também os passos. Passou por mim falando baixinho, diminuindo os gestos. Mas
conservou no rosto um riso de assunto engraçado. Quando se distanciou, percebi:
ele tinha escondido dentro do seu blusão um celular. Os fones de ouvidos
estavam cobertos por uma toca. Penso que pelos palavrões ele falava com um
amigo. Para mim ele não disse nada, mesmo eu tendo respondido parte das suas
falas. Quando menino, ouvia do meu avô: louco
é quem fala sozinho pelas ruas. Hoje eu sei. Na era da informática doidices são
normais. Já afastado alguns passos, o jovem tirou a toca e me observou. Voltou
a caminhar e sorriu alto: Sei lá véi! Conheço, não. Ele achou que eu estava
falando com ele. É cada comédia! ...? Falô, Muleque! Fui! Sorriu e desligou o
celular.
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