Joaquim.
Há tempos não encontrava um. E mais tempo ainda não ouvia esse nome. Na
conversa dos nossos cotovelos restava apenas ser singular no imenso mínimo de
uma poltrona. Queria sobrar para contar isso numa crônica, amo as crônicas.
Postar um Twitter, poucas palavras, contando a insegurança das nádegas ouvindo
o trovoar do estômago. Desejei, foi desejo mesmo, tirar uma foto da unha do
mindinho do pé direito, postar, Instagram, Facebook, qualquer rede. Era preciso
levantar a perna da calça, tirar o sapato, a meia, e o band-aid colocado para
não danificar as importantes letras iniciais do nome de um
artista. Gravadas com muito amor na mindinha do meu pé. Estendi a mão. Quase um
contorcionista. Alcancei o celular. Observei. Ninguém olhava. Nem o Joaquim.
Larguei
mão da ideia da foto.
O
Joaquim mudou meu pensar.
O homem havia trançado a barba e retirado do
casaco um terço. Observou minha cara de foto para o Facebook, respirou fundo,
profundo, bem fundo. Tirou da bolsa menor uma bíblia, e do bolso menor da bolsa
menor, um frasco contendo água de Israel, rio Jordão. E do bolso minúsculo do
bolso menor da bolsa pequena, um jesuscristinho. Joaquim me pediu a mão.
Fiz-lhe um sinal de espera e peguei o meu Buda. Joaquim olhou a pequena estátua
dourada, arregalou os olhos e ajuntou ao peito o seu jesuscristinho. Respirou
fundo, profundo, bem fundo. Joaquim era um homem enorme. Alto, corpanzudo, mãos
grandes. Minhas mãos são pequenas e meu corpo, no ar quem se importava com o
peso, a aeronave preparava para nós uma chegada unificada.
Rezando
em todas as fé, em todas as religiões, invocando os santos da Bahia, a minha
mão se escondia na mão dele. Alguns davam gritos, nós dávamos as mãos. Ele
beijou o jesuscristinho e o colocou para o meu beijo. Eu beijei o Buda, ele
também. Dividimos o frasco da água do Jordão. Os solavancos, horripilantes. O
medo de perder o Buda e o jesuscristinho era maior que o de tocar a terra.
O
impacto foi aterrorizante.
Alguns
segundos entre corpos, bolsas, travesseiros e poltronas soltas. Nossos bancos
permaneceram intactos. Joaquim rezava. Estávamos vivos. Ele perdeu o
jesuscristinho. Eu encontrei o meu Buda, mas perdi o celular. Fiquei sem Selfies,
mas amo as crônicas.
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