terça-feira, 25 de outubro de 2016

A VIDA A GENTE CONTA EM SEGUNDOS



A gente não pensa. Mesmo quando a gente dorme, a vida é contada em segundos. E quando acordamos?! E no instante em que somos sono e despertar, sentamos à beira da cama e pensamos: quanto tempo falta para a hora? A hora de enfrentar o dia, um compromisso qualquer, ou simplesmente levantamos e não queremos saber de hora nenhuma. Mesmo sabendo, ou não sabendo, envolto em horas certas e incertas, a vida é contada em segundos.
Em dados momentos, não sabemos se é o tempo que nos transforma ou transformamos o tempo. Em meio a gritos, buzinas e ritos, somos arremessados nos instantes inesperados. Correndo de um lado a outro, como se, correndo, desapressássemos a vida que é contada em segundos.
Houve um tempo em que uma carta demorava um mês, uma viagem conversava com os mares e a pressa não cabia numa prosa. Houve uma ocasião em que uma canção nos acariciava os ouvidos e a gente esperava tanto por um disco novo. Existia um período em que copiávamos longos textos e a nossa letra não doía. Hoje fotografamos os quadros, nos encontramos nos e-mails. Fortalecemos os laços de amizade no WatsApp e se algo demora, a calma se perde por segundos.  
E por lembrar-se da pressa, apertamos o tempo e aceleramos nossas artes. Nossos olhos não demoram mais na beleza. Nem nossa inteligência busca o profundo nas invenções. Mas como questionar a beleza, se os olhares que a interpretam são compostos de sentimentos-instantes? A verdade é que não questionamos o que os nossos olhos e ouvidos classificam como belo. 
Não há calma na calma. 
A vida é composta de coisas belas, feias, tolas. Sim. É feita de belezas feias e de feiúras belas. E no instante em que nossas dores pedem alívios, nossas alegrias pedem sorrisos. A gente se estabelece. Olhamos para trás e fixamos repouso no que o tempo ajuntou. Selecionamos então os momentos memoráveis e com um sorriso dizemos: como aquele tempo era bom! Como se o ontem importasse mais que o agora e o agora, é tempo contado em segundos. 
O passado parece tão distante. Mas no momento em que o invocamos parece presente e de tão visitado parece real. Vivemos buscando significados que intensificam nossas alegrias para reforçar a lembrança dos nossos bons momentos. Significamos nos instantes, sejam eles belos ou feios. E se nas significâncias não aprendemos o valor da vida, é porque nos faltou olhar com jeito, devagar, com delicadeza, como movemos nos segundos.