quarta-feira, 1 de março de 2017

RECORTES DE UM "MOMENTO" ESTRANHO



Todas as notícias ficaram velhas. Envelheceram os gestos, as expressões e os sorrisos. Os olhos não envelheceram, mas ficaram cansados. Os ouvidos não acumularam tempo, perderam os ânimos. Nenhuma música nova. Nem um filme. Esculturas. Literaturas. Nenhuma palavra excêntrica.
Todas as religiões ficaram velhas. A fala. As regras. As explanações.
O novo, um velho novo.
Tudo que era novo.
O novo que era tudo.
O que era, e que, agora é, é simplesmente um “É” velho.
Todas as notícias chegaram rápidas, mas num rápido velho. As novidades foram espalhadas velhosamente, confundindo os gostos. As possibilidades aumentaram, apressando a pressa do homem. As rotinas rotinaram, envelheceram. As inovações não provocaram risos, não acenderam desejos, nem despertaram olhares. Ficaram velhas as confissões, as declarações, as opiniões, as insinuações, as posições... as manifestações, as aproximações, as agressões e os afastes.
O amor ficou velho.
Não, não! O amor ficou novo demais. Novar muito acende o medo. O amor ficou “assim”, abarrotado de medo: como quer um “assim” avelhantado. 
As palavras.
Essas declararam toda forma de velhice. Aquelas delicadas, que chegaram vestidas de carismas, soprando delicadezas, caíram em desuso.
Todos os eu-te-amo ficaram velhos.
Se dispersaram dos corações. Saíram por aí. Num aí sem apego, sem obrigações. Envelhecendo os encontros. Abrindo silêncios. Anoitecendo as manhãs das tardes que envelhecem, por não ter recortes novos.  


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