domingo, 18 de junho de 2017

A DATA DE VIVER


Um dia a gente sabe da gente, e não diz nada;
O muito saber, o pouco saber, o que são fatos.

Um dia conhecemos a gente, e não falamos nada;
Ser quando ou ser agora, ou ser depois. O que importa é o ato.

Um dia conversamos com a gente, e não proferimos nada;
O tempo, o momento, o que são os gestos.
Mesmo nos dias em que se aplaudem as metades, há pessoas se dando por inteiras; os gestos viram atitudes, as atitudes viram hábitos e os hábitos viram viver.

Um dia nos contemplamos diante dos espelhos, no outro, nos encontramos nas vitrines. A gente troca os espelhos, se apega aos retrovisores. Troca os silêncios, muda o vocabulário, conserta as palavras, enfim, a gente muda. Troca de lugar, troca até de sentimentos;

Um dia estamos indo e no mesmo estamos voltando;
Ir e vir, se desapegar dos momentos. Estar é nunca saber-se compreender. Estando já é mover-se, mesmo que seja rumo ao nada.

Um dia esperamos nos encontrar, um dia a gente se encontra, um dia a gente é encontro, no outro é simplesmente “um dia”.
Um dia passamos pela gente e nem sequer olhamos, apressados, não olhamos nada. O coração anda devagar em tempos de corpos apressados;

Um dia a gente sente falta da gente. E sentamos com a gente, e despejamos tudo, e gritamos alto, e até chutamos nossas barracas.

Um dia queremos só a gente, da forma como somos.

Um dia queremos ser tudo, para preencher o nada, enquanto se é tudo.