PELO MEIO DO CAMINHO
Uma
frase escrita no muro:
“Perto do
lugar em que nunca estive há um grito de lembranças: minha saudade é o grito”.
O muro já desbotado ainda sustentava as letras
que davam sinais de estarem escritas há muito tempo. A rua era o caminho de ida
para o meu trabalho e de volta à minha casa. Não sei falar quanto tempo fazia o
mesmo caminho. Penso que a rua já me tornou: lugar de passagem... e, tempo. Não
sei dizer o que me levou a perceber a frase. A bem da verdade, não sei afirmar
o que me fez ver o muro. Não estamos acostumados observar os caminhos pelos
quais passamos. Continuei meu trajeto com a frase ecoando em minha cabeça e vi:
as lembranças se faziam naquele momento por meio de rostos que eu conhecia há
tempos, mas que nunca houve sequer uma aproximação. Digo: rosto de pessoas que
eu conhecia por freqüentar o mesmo trajeto. Rostos que conheço quando a cidade
ainda era um simples lugar do interior cujas ruas ainda eram de chão e os
ventos brincavam de roda com a poeira.
Numa
das manhãs acostumadas do meu itinerário vi um homem com os cabelos brancos. Lembrei-me
dele quando éramos meninos. A gente frequentou os mesmos lugares: a praça, a
catedral e os campos de futebol espalhados aos arredores da cidade. Apesar de
nos esbarrarmos em ato de estada, nunca conversamos. Observo-o passando por
mim. O menino, agora homem de cabelos brancos, trabalhava ainda na mesma
oficina? Ele me olha como alguém que me conhece, mas que nunca se aproximou. Eu,
como ele, conhecido de infância, mas distante de conversas, por um momento
questionei meus cabelos brancos. Eu mudei de trabalho tantas vezes, mas não
mudei as minhas ruas. Todas as manhãs, nossos horários eram os mesmos. Trabalhos
diferentes, caminhos iguais. No tempo éramos semelhantes, suponho que nascemos
na mesma cidade, no mesmo ano. Talvez em dias parecidos. Ele se vai. Se esconde
dentro da oficina, com sua bicicleta desbotada. Deixando desbotada a minha inquietude.