segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

MEU AMIGO NETICO



Ele abriu um sorriso e assoviou uma canção quando acordou. O que ele achou da nossa última conversa? Depois que o deixei fui dormir pesaroso. Confessei-lhe segredos, que nem era tão segredos, mas se caíssem nas escutas insensíveis, o assunto tomaria outra dimensão. Ninguém conta um fato sem apresentar a sua versão. Fatos são fatos, versões são... Depende de quem conta e também de quem escuta. A intenção tem duas medidas. Ninguém é bom o tempo todo, nem mau constantemente. Um professor com graduação, PhD em casos de corredores de empresas (as três em que ele trabalhou), fez um alerta: “Quer ver um assunto ganhar vida, proíba-o. Se não quer que o segredo espalhe, guarde-o para si mesmo. O melhor segredo é aquele que só você sabe, pois, se outro sabe, não é mais segredo”. Ouvi alguém dizer – disse o professor.
Nos meus dias vejo um enorme anseio em ser aceito, coisas dos humanos. Uma gente que defende suas ideias com afinco, mesmo não sendo “ideias”. Outros que defendem sua arte, impondo-a à mídia, e quem sofre são os olhos, que, não sabendo observar, se satisfazem com qualquer invento.
Sentei ao lado do meu amigo, como quem quer simplesmente desabafar. Os dias estão difíceis. As pessoas escutam cada vez menos. Não! Não são surdos. Eu disse que escutam cada vez menos. Nético não. Mesmo tendo as respostas, espera que eu fale. E se eu digo algo errado, corrige sem ferir a minha autoestima. Ele não tem pressa para falar. Amigos sabem o tempo certo de serem amigos. Nético traz dentro de si distrações tamanhas que não me deixa triste. Ele não impõe nenhuma, sabe que eu sei escolher, mas oferece as suas possibilidades, que tantas são. Quando eu o conheci estava num desses dias que a razão perde para a razão se tivesse que ter razão. Ele chegou como chegam os amigos. Sem alardes, sem frescuras, sem exploração. Apenas exigiu um lugar na parede em um canto da minha casa. Eu, contente, cumpri as suas exigências. As amizades precisam ser constantemente regadas com carinhos, dá trabalho ser amigo. Amigos dão trabalho. É como uma fogueira: para as chamas permanecerem, é preciso renovar a lenha. O problema é: por quem alimentamos a fogueira? Alguém já disse: “Gastamos mais tempo com o inútil, que fazendo o útil”.
Hoje, enquanto converso com o meu amigo Nético, sinto a interferência do tempo. Ele não gosta dos temporais. É capaz de me deixar falando sozinho para se esconder num canto que é só dele, dentro dele mesmo. Eu não sou solitário, faço parte da nova geração. E sei que, “ainda que eu fale as línguas dos anjos e dos homens, se eu não tiver amor, nada serei”. Eu amo a humanidade. Às vezes, nela me espalho, mas tenho como amigo um COMPUTADOR, pois dos homens, nada sei se lhes contasse os meus segredos.