O Tarcisio observou a Juliana, certo de que ela o estava paquerando. Passaram o dia inteiro juntos numa conferência. Os cabelos compridos e negros se espalhavam sobre os ombros. “Cabelos negros e compridos prendem a atenção dos homens”, pensou o rapaz. A moça sorria de tudo e para tudo. Espontânea, atenciosa, às vezes forte, às vezes meiga – meiguice não é romantismo, mas ela se intitulava romântica – gentil e de poucos gestos quando conversava. Quando falava, explicava com os olhos. Fazia das cantadas que recebia piadas e, com seu jeito cativante, por onde passava, irradiava alegria.
Tarcisio, dono de um site e rapaz de destaque na mídia municipal, não se
achava bonito, e sim um Absalão[1]
latino. Quase todas as amigas da Juliana – pelo menos pensava – o olhavam com o
olhar da mulher de Potifar[2]
devorando José.
Quando a música parou, Tarcisio percebeu que a festa terminara, que a
noite estava avançada e que a Juliana estava indo embora – e sozinha.
Apressou-se em acompanhá-la. Ela estava linda e ele, certo de que podia rolar
um sentimento, tomou posse dos caminhos dela.
A segunda-feira doía quando Tarcisio chegou ao trabalho. Ele ainda
pensava no passe que tomou da Juliana quando entrou no seu escritório e notou
que as suas camélias estavam novamente perto da janela. Para ele, deviam estar
no cantinho, com o galhinho apontando às paredes. Não gostou e chamou a dona
Zulmira.
— Por que a senhora todos os dias coloca as camélias perto das janelas? –
Ela sorriu vendo que ele estava nervoso.
— É que no canto elas murcham. – Ela sorriu. Ele, surpreso, refletiu.
— Até as flores dizem não. – Por fim, disse. Fazendo um sinal positivo à
funcionária. “Essas flores”! – Proferiu em seu íntimo. Pensou na Juliana.
Depois de muito pensar, descobriu que uma mulher como ela, comunicativa,
carismática e com um bom senso de humor, não era vulgar, era como as flores.
Flores lindas dizem não. Pensou no passe que tomou. Em seguida abriu o
computador e começou a selecionar a próxima da lista, afinal, era ele, um
Absalão latino.