Foi por acaso que me deparei
com Gullar na livraria. Saí de lá e entrei em sua Quitanda. Tive a sensação que
estava visitando novamente o MASP em São Paulo. Havia saído com a intenção de procurar
por mim nas ruas, já que eu não me encontrava dentro de casa. Escapei. Sem
rumo, peregrinei sem saber o que fazer ou onde parar. À minha frente, mas para
a direita, uma padaria, com promoções e cafés variados.
Poderia sentar ali, me
esparramar sobre a cadeira e esperar por mim, passando por uma das vias em ida
e, ou volta, ou simplesmente pedalando em círculos com uma bicicleta infantil. Poderia
puxar conversa com Manoel Bandeira que por muito tempo frequentou lugar como
aquele e até pensei convidar o Chico para passar com sua Banda. Mas o que fiz
foi virar para a esquerda e, atraído por gritos de “Vai, Curíntia!” , mirei o
bar abarrotado de gente que se dividia entre cerveja e a copa São Paulo de
futebol Júnior. Ali eu não estava. Nem estaria se me deixassem sentar para um
papo com Gullar.
Vilhena possui alguns
lugares onde eu consigo esconder de mim. Não vou revelar esse recinto para
que, você que me conhece, não venha delatar o meu cantinho preferido. Distante do
celular, afugentado das redes sociais, e vazio dos amigos virtuais, coube a mim
se esconder do músico que, indisposto com a música, posa de cinéfilo na Flix.
O fato, isso é fato
mesmo, é que caminhei por um bom tempo pelas ruas, buscando encontrar um lugar
que me devolvesse para mim. Vanzolini em sua Ronda tinha a noite, eu, uma
simples tarde cinzenta com cara de chuva que traz o frio. Como disse antes, sai
pelas ruas sem saber onde ir, mas fui salvo pelo automatismo que me levou a uma
livraria e me devolveu para mim. No meio de tantos livros sorrindo, abri um
riso daqueles que espanta Cem anos de Solidão, escolhi um Gullar, andei com ele
até um bar vazio, e numa mesa discreta, me fiz existir na Alquimia da sua Quitanda.