ESPAÇOS...
Diante do tempo
No tempo de tantos agoras
Eu, agora me perco
Eu, agora me acho
Eu, agora, agora
Espero por mim.
Tenho algum tempo
Tenho alguns daqui a pouco
Tenho alguns depois
Tenho agoras...
O depois já teve um agora
O daqui a pouco terá um agora
O agora possui um agora
Eu tenho um agora
Nele, procuro por mim.
Até me procuro
Até me encontro
Nessa busca
Me encho de "agoras"
Que esperam por mim.
domingo, 26 de agosto de 2012
sábado, 25 de agosto de 2012
BIOGRAFIA
Nilson Ferreira
Biografia
Livros:
Poemas do meu canto - 1994
Fragmentos Líricos - 1995
Nilson Antonio Ferreira da Cruz, nasceu na cidade de Denise no Estado do Mato Grosso no ano de 1969. Viveu parte da infância numa vila chamada Assari, (lugar onde guarda o seu coração) município de Barra do Bugres. Desde muito cedo se interessou pelos livros, passando quase todo o tempo livre lendo alguma coisa. Quando criança tinha um sonho: Conhecer o local onde se fazia livros. Ainda no Mato Grosso cursou até a 6ª série. No ano de 1984 veio para Rondônia e passou a morar em um sítio. Ao mudar-se para a cidade de Colorado D'oeste (1985), ingressou-se numa gráfica, profissão essa que exerceu por vinte anos. No ano de 1986 veio morar em Vilhena, cidade a qual vive até os dias de hoje. Como gráfico, realizou o seu sonho, aprendeu a confeccionar livros.
Começou a escrever no ano de 1988 depois da separação dos seus pais. A poesia se tornou um ato de desabafo. Ainda sem concluir os estudos, no ano de 1991 foi levado por uma professora que cursava letras na Universidade Federal de Rondônia - Campus - Vilhena, a participar das aulas ministradas pelo professor Rocha, onde aprendeu conceitos de poesia. Essa mesma professora, Marlene Silveira, foi também responsável pela música na vida do poeta. Ela se tornou a pessoa mais importante na vida do escritor, pois, além de atuar como professora, foi uma grande psicóloga e às vezes fazia o papel de mãe devido os conflitos emocionais do poeta.
Começou a escrever no ano de 1988 depois da separação dos seus pais. A poesia se tornou um ato de desabafo. Ainda sem concluir os estudos, no ano de 1991 foi levado por uma professora que cursava letras na Universidade Federal de Rondônia - Campus - Vilhena, a participar das aulas ministradas pelo professor Rocha, onde aprendeu conceitos de poesia. Essa mesma professora, Marlene Silveira, foi também responsável pela música na vida do poeta. Ela se tornou a pessoa mais importante na vida do escritor, pois, além de atuar como professora, foi uma grande psicóloga e às vezes fazia o papel de mãe devido os conflitos emocionais do poeta.
No ano de 1992 surgiu outro professor, Anísio Ruas o qual se tornou um amigo e incentivador. Com ajuda de Professores e uma participação direta da professora universitária Merli Profeta, o poeta publicou o seu primeiro livro de poesias no ano de 1994 - Poemas do meu Canto. Uma parceria com a Prefeitura Municipal na Gestão do Prefeito Ademar Marcol, grande incentivador da arte vilhenense, que no ano seguinte, ajudou na publicação do segundo livro do poeta, Fragmentos Líricos - 1995. Casou-se em 1998 com Lori Bohringer da Cruz. Não tem filhos. Nilson Ferreira é evangélico. Concluiu o 2º grau através do supletivo e está no quarto período do curso de Letras na Universidade Federal de Rondônia - Campus - Vilhena Rondônia. Atualmente Nilson é professor particular de música e trabalha como Monitor no programa Mais Educação. O poeta concluiu um novo livro de poesia, mas espera publicar depois que tiver o seu romance publicado. Foi membro da AVL - Academia Vilhenense de Letras - por dois anos. O poeta escritor está aguardando a avaliação do seu romance por uma editora do Rio de Janeiro. Pretende investir na literatura e atuar como professor de língua portuguesa.
SABER
Sabe-se bem
Que o teu olhar
Vem me instruir
Me dominar
A sua beleza me cai
bem
O seu olhar também
Sabe-se bem
Que me convém
Me olhar.
sábado, 18 de agosto de 2012
Livro que quero ler
Aí está mais um livro da série: LIVROS QUE EU QUERO LER
Lucy Jarrett é uma jovem de espírito aventureiro que, depois da morte do pai, saiu de casa para cursar a faculdade e, desde então, não teve mais pouso certo. Bem-sucedida em sua carreira, ela vai aonde a vida a leva, sempre pulando de um país para outro, de um bom emprego para outro ainda melhor.
De repente ela se vê estagnada: morando com o namorado no Japão, Lucy não consegue arrumar trabalho e a relação deles está visivelmente abalada.
http://www.editoraarqueiro.com.br/livros/ver/74
O Livro
PEQUENA PRÉVIA...
“A única coisa que eu conseguia ver com clareza era o homem há poucos passos, o meu alvo... se ainda me restasse alguma força. Tudo o mais não parecia existir, apenas um borrão de cores e formas ao meu redor.
É claro que tinha de restar alguma força, ou tudo o que eu passara não teria valido de nada. Eu sabia exatamente o que fazer, mas tudo parecia tão irreal e tão doloroso que a cada batida do coração eu me sentia mais fraca e vulnerável.
Heroísmo é para heróis, eu sempre soube disso. E o problema é que eu nunca fui uma heroína. A despeito de tudo o que parecia sensato, porém, lá estava eu, lutando até a última fagulha de esperança, usando de cada fiapo de resistência que meu frágil e despreparado corpo oferecia, infringindo a lei natural das coisas... Salvando a vida da pessoa que amava. Ou melhor, tentando salvar.
Era a segunda vez que eu via essa cena. Apesar de ter visto antes, na minha mente, com a mesma nitidez, agora era real, avassaladoramente real. E nesse instante eu estava lá, de espectadora, esperando reunir coragem suficiente para agir.
O barulho estrondoso veio da arma. O som mais terrível do mundo. Naquele segundo, meu universo desabava.
Havia muitas coisas que eu queria dizer para expressar a dor que atingia meu peito e que nada tinha a ver com dores físicas. Mas, no minuto em que eu soube que ouviria aquele som explosivo e nauseante, tudo o que consegui emitir através de meus lábios secos foi um longo e desesperado grito.” (Prólogo)
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domingo, 12 de agosto de 2012
O DEPOIS
O DEPOIS
De vez em quando o tempo nos prega
uma peça e desprevine o “depois.” A vida que imaginamos ao nosso dispor se
descamba e por caminhos não planejados, foge do nosso favor sem reconciliação.
Eu não confio mais no “depois”, nem aceito os seus sinais. Vivo em busca dos
momentos inesquecíveis que farão do amanhã lembranças de um hoje magnífico, mas
porque fito o futuro o meu presente se descamba, perde o sabor.
Sou como uma roupa justa que precisa
a todo instante se ajustar ao sistema do corpo. As circunstâncias me puxam.
Numa sala, aguardo a minha nota. O
professor as dita como se quisesse evitar uma humilhação. As minhas teorias se
justificam. Uma escultura andante passa por meus olhos e me distancia das
demais coisas, do tudo ou de quase tudo. Como um beija-flor diante da flor,
meus olhos param. Ela percebe o meu olhar e não foge dele. Insisto em dizer: a
beleza paralisa os humanos, mesmo por alguns segundos.
Ela arrasta a cadeira, deposita sua bolsa sobre a mesa. Ajeita os cabelos
e puxa a calça. Rebolando, faz vários movimentos. Não sei se para ajustar a
calça ao corpo ou o corpo à calça. Vi a discordância em concordância. Quem
não cobiçaria grudar em tanta beleza? Formosa. De encantos raros. As vestes em
desacordo não descartavam seus privilégios.
Meu olhar se perdeu nos movimentos e se achou no sorriso dela. Cabelos encaracolados,
escuros como uma noite rareando a luz da lua. O olhar forte, como felina
fitando a presa, olhou-me como se já me conhecesse. Tive o mesmo olhar e acho
que o mesmo pensar. Tenho a impressão que há sempre duas pessoas pensando a
mesma coisa. Se alguém discorda, por que dois veículos se chocam ao cruzarem
uma rua? Outro dia, numa loja dessas que vendem no crediário, vi o que chamam a
luta dos Juvenal. Assim mesmo, Juvenal no singular. Tinham a mesma idade,
naturais de São Paulo e vieram morar aqui em tempos diferentes. O destino os
fez parecidos no nome e na idade. Pensei nos pais deles no tempo de
feitura.
Meus devaneios tolos foram abolidos
com um “tchau” e leve dançar de dedos. Segui seus passos. Em cada espaço de um
passo, um embaraço.
O olhar que parecia me conhecer se
escondeu depois da porta. Pela vidraça observei seu caminhar. Há pessoas que
andam, enquanto algumas desfilam.
O tempo passa, a beleza passa, e a
felicidade que fica se encarrega de guardar as lembranças dos momentos raros.
Um olhar ou um sorriso podem construir tantos instantes, podem refazer um ser
humano, podem dar vida a alguém esquecido na vida ou podem simplesmente
melhorar o mundo.
Depois daquele olhar que parecia me
conhecer, os minutos eternizaram-se. No aconchego do riso dela tornei-me
conhecido, não de fala, mas por um olhar que diz coisas, porém guarda os seus
mistérios.
— Amiga, desculpe. Prometi que
traria o livro pra você, mas fiz tantas coisas hoje que nem deu pra passar em
casa.
— Você não foi almoçar em casa?
— Não tive tempo.
Preso a um questionário, ouvi atrás
de mim um papo de amigas. Ali estava alguém traída por um “depois”. Por que
existem os depois? Depois de agora, depois de amanhã, depois do depois e depois
do depois de amanhã...
A escultura andante voltou ao seu
lugar. Era outro dia. Outro momento, outro sorriso, mas o mesmo olhar. Um olhar
que não afugenta o coração.
O instante trouxe algo mais: o aconchego do riso dela.
No tempo presente, me fiz presente ao riso. Não quis o depois entre nós
amigos, quis ser amigo sem pensar num depois.
Um depois tem tantos rumos, e um
deles é esse que percebo no meu destino, fora de rumo.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
PENSAMENTOS ROBÓTICOS
PENSAMENTOS ROBÓTICOS
Quase não faz sentido fora do seu
tempo o Sete do nove. Outros dias são outros dias. O orgulho não anseia mais
bater no peito ao cantar a mais importante canção de uma nação. Costume é
costume, mas desacostuma por uma coisa nova. Coisa nova amedronta o acostumado.
Medo da novidade.
A novidade veio para apagar a beleza
dos instantes que só fazem sentido se o instante promover novidades.
O tempo não surpreende, e sim as
coisas novas que chegam pela fusão do tempo. Não sei nada do “daqui a pouco”.
Sei que, daqui a pouco, vou ter um pouco de novidade.
O que antes era belo, hoje não me toca mais, mesmo sem perder a beleza. E
a gente se acostuma em levantar, a passar pelo dia, a esperar a noite...
Acostuma-se com as falas, com as salas, com os amigos, com os sentidos... A
gente se acostuma com o próprio costume. O costume esconde o viver.
Dentro do ônibus, repetindo os dias,
uma mulher repete também os gestos. O veículo pára frente um edifício de vidro.
Depois que movimenta rumo à próxima parada, ela se levanta e procura dentro da
sua bolsa algo demorado para ser achado. Encontra o seu batom. Retira a tampa,
observa no espelho que é a própria tampa, morde os lábios várias vezes, aplica
uma nova camada da cor vermelha, que para mim não realça diferença, mas ela
insiste no detalhe. O tempo de uma nova parada é o tempo da sua preparação para
descer.
O motorista buzinou várias vezes
antes de dar um grito ao passar pelo seu colega de trabalho. O mesmo lugar, a
mesma conversa, o mesmo jeito de sorrir das mesmas piadas.
Um guarda de trânsito no meio da rua fez sinais indicando um desvio. Algo
novo no caminho, um caminho novo. O alegre motorista de algumas quadras atrás
se descambou de ira. Pensei na força que há em virar a página de um livro. Há
uma força oculta, tênue, mas que exige atitude de chegar à próxima lauda. Há
uma escolha. Podemos permanecer na página ou encontrar coisas novas na
seguinte. Há humanos que passa da paz à ira como um virar de páginas.
O motorista praguejou.
Seguindo os modos do condutor, alguns passageiros praguejaram também.
Outros ruborizaram ouvindo os palavrões. Algumas pessoas têm a boca santa até
encontrar um momento certo para expor as satanices. Para os humanos, a mesma
força que carrega o céu e o inferno faz das suas bocas um cartão postal da sua
moderação. Um desfile de Sete de setembro obrigou o motorista tomar outra via.
A vida nos faz tomar direções diferentes quase o tempo inteiro e nem precisamos
de um guarda de trânsito para mudar os caminhos, basta atrasar um compromisso
para as coisas mudarem de rumo. As ocorrências da vida possuem duas linhas no
tempo. Quando apressamos um sonho, perdemos a excelência; se demoramos,
passamos do tempo. Uma vez cheguei atrasado, voltei para casa e perdi um dia de
trabalho.
Observei parte do desfile. A mesma
rua, o mesmo som da fanfarra, o mesmo marchar de alunos. Os alunos eram
diferentes, mas a tradição era mesma. O mesmo professor conduzia a banda. Acho
que a mesma plateia assistia o desfile, que era novo no tempo, mas como as
minhas reminiscências, já cruzaram os dias. A caixa de onde antes eu tirava um
som, no momento tirava a paz dos meus ouvidos.
Reparei no meu cachorro, que sorria
latindo quando entrei no quintal. Vi movimentos novos. Os improvisos de um cão
são sempre os mesmos, mas são lindos porque são movimentos de espera. Ele
alegra um chegar que chega quase sempre da mesma forma, cansado.
Observo o meu cachorro. Enquanto o
abraço, penso nas coisas que vi durante o dia. No percurso do meu trabalho vi o
que vi na ida, e na volta reflito nas coisas que passaram por mim. Coisas
passam por nós e, no vai e vem de um ser, habitam seus pensamentos. O
motorista, a mulher, o desfile... Foram as reflexões que comigo ficaram. Os
meus dias são de rotina, mas não precisam ser. Meus pensamentos, robóticos,
estão acostumados a ter costumes. Meus hábitos se habituaram a habituar.
Pensando nas coisas que mudam, mas não perdem a sua essência, cogito dias sem
rotina. Entrego-me numa emoção que se renova no sorriso de um cachorro. Esse
sentimento afasta de mim os pensamentos robóticos que escondem de mim a
grandeza da pátria. Celebrada para não ser esquecida, no Sete do Nove.
DIAZANDO
Tem dias que os dias se perdem,
diazando. Fica vazio, fica cheio, e monótono, fica estranho. O time não ganha,
a TV não agrada e a paciência? A paciência procura ter paciência para aguentar...
Notícias de políticos, políticos nas
notícias. Som que parece música, música que parece som. Gente que fala a
verdade, gente que de verdade não fala. Verdades que não interessam, pois só pertencem
a quem as diz. Pessoas que não amam a pátria e, cá para mim, pessoas que a
pátria não ama.
Somos iguais no currículo da vida. Nascemos para vinte e quatro horas.
Não culpo os dias, nem a sua extensão. Ao meu gosto ou não, eles seguem
diazando. Passam por mim como passam os carros... As pessoas... As dores... Mas
ficam também como ficam as pessoas, as dores, as lutas e as circunstâncias.
Foram estabelecidas vinte e quatro horas para viver. Somos a soma do
tempo. O meu coração é depósito dos meus olhos. Onde deito o meu olhar?
No meu time que não ganha?
Nas notícias de políticos? Nos políticos nas notícias?
Nos cantores que parecem cantar, nos cantores que cantam, mas não parece?
Na arte que perdeu a arte, na arte que virou um corpo?
Na arte que é arte, mas que se esconde nos templos de burguês?
Enquanto os dias vão diazando, eu quero a essência da beleza do
impressionismo de Monet. As cores da vida impressas nos sorrisos e a
sinceridade ética impressionando o viver. Meus sentimentos, depósito dos meus
ouvidos, ponderar me fazem.
O quê invoca o meu ouvir?
Onde descanso o meu sentir?
Na música que parece som?
No som que parece música?
No que dizem que é bom, no que é bom, mas não dizem?
Nos vendavais da religião, na religião de vendavais?
Na ruptura, na estrutura, na leitura, nas várias faces da lei?
O que dirão os que não ouviram seus pais?
Os sonhos já não sonham mais?
Os dias que amanheceram, não amanhecem mais?
Tem dias que os dias são normais, diazando. O estranho sou eu
questionando. Passo por mim passeando. As coisas estão fora do lugar, não
aquelas que funcionam no corpo, mas as que os olhos e os ouvidos insistem em
depositar.
Pessoas sem consciência fazem o que pensam sem pensar.
Pensam que pensam, mas não pensam no pensar. Alguém já disse: “quando
todos pensam iguais é sinal que ninguém está pensando”.
A TV insiste em mudar meu pensar. Se fico muito perto, penso como eles
que insistem em dizer: Esse artista é legal, diz o que pensa. Pensou o quê?
Diante de quem não tem conteúdo a culpa é sempre de quem não pensa nada e se
satisfaz com minúcias.
Quando pensarem, simplesmente pensem: eu existo.
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
JESUS E A MULTIDÃO DOS QUE NÃO VIRAM.
Com demasiada calma, o homem ocupou
o espaço que sobrara no meio dos homens. Entre o grupo, uma bíblia aberta.
Alguém tinha um violão. Alguém cantou e tocou tão bem que choraram diante dele.
O grupo seguia o evangelho e fazia daquela praça a sua “Ágora.” O homem
certificou-se do tema. Correu os olhos pela roda de amigos e voltou a
concentrar no que diziam. Quando alguém tomava a palavra ele ouvia atentamente,
como se, além de ouvir, lesse por dentro aquele que dizia.
“Se Jesus participasse dos
nossos cultos hoje, renderíamos reverências?”
Cinco jovens. “Cada um traz a expressão de algum apóstolo”, o homem
pensou. Outros que passavam por ali se encantaram com os moços que se reuniam
em uma praça a fim de discutir o evangelho. O homem amou os jovens que faziam
dos seus movimentos uma cadeira de balanço.
O homem viu Pedro quando um moço se
levantou para defender a sua tese. Ao final da fala daquele, levantou outro
jovem e deu sequência ao discurso. A fala mansa, envolvente e com palavras que
acalmavam o coração. O homem viu João. Não o velho, mas um João novo. Ao
contrário do primeiro rapaz, que discursou com palavras desencontradas, mas que
dava destino ao coração.
“Pedro andou sobre as águas, teve impulso, explodiu, foi adiante, errou
muito, mas arriscou-se mais”. – Refletiu. No impulso ele cortou uma orelha,
contestando o evangelho que vem pelo ouvir, e ouvir a palavra de Deus. Jesus
com bondade a colocou no lugar. O guarda não só ganhou a orelha de volta, recebeu
também o toque das mãos do Senhor. O homem sorriu ao refletir: foi o discípulo
que viu Jesus transfigurado e aquele que ouviu do próprio Deus:
— Esse é o meu filho amado em quem me comprazo, escutai-o.
Penso que Pedro não queria que outros ouvissem. Qual a função das
orelhas? – Indagou depois de refletir.
Penso que Jesus ainda cola orelhas
cortadas por Pedros desavisados que, na pressa das palavras, impedem a verdade
de se fazer válida.
O homem sorriu das suas deduções.
Uma moça, que não conhecia muitos
acordes, no intervalo da fala fez o violão acender o coração do homem, que
ouviu atentamente a voz da jovem. “Houve uma mulher que usou os cabelos para
enxugar os pés de Jesus, essa aí usa uma voz sem recursos, mas que limpa o
coração”, cogitou o homem em seu íntimo.
Outra fala, outro moço, outro nível
no discurso. Aquele que veio depois estava preparado para a homilia daquele
momento. Passou dias, gastou noites, devorou livros, fez pesquisas, se
preparou. Seu falar tinha coerência. Seu discurso, poesia e riqueza. Os
detalhes prendiam a atenção do homem. Atento como a um menino ouvindo a
história do pai, pensou em Paulo, que havia visitado o terceiro céu, mas porque
era humano não pôde ficar lá por muito tempo. A santidade esbarra o tempo todo
na comunhão. Moisés ficou um grande tempo na presença de Deus. Esse tempo
perdeu a essência quando, ao descer, um bezerro de ouro lhe saltou aos olhos.
Um bezerro de... Ouro nos templos, sinal de unção. Outro tempo é outro tempo.
O homem quis falar. Parabenizá-los
por tal atitude. Felicitá-los pelo conhecimento de Deus e pelo esforço das suas
mensagens, afinal, estavam engrandecendo o ensino de Jesus. “Onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome ali estarei”. Queria dizer algumas palavras
que lhes abrissem a mente, não pôde. O assunto era intelectual, e espiritual,
não permitia conversa de quem chegava para mudar o discurso com perguntas. Por
que temos mais respostas que perguntas?
Olhai os lírios do campo, eles não trabalham nem fiam, mas nem Salomão
que recebeu das mãos de Deus tamanha sabedoria possuiu a grandeza de um lírio.
O homem fitou os céus, reverenciou o senhor Deus. Olhou as pessoas e amou-as.
Observou os campos e se encantou com os lírios. Os Humanos olham o céu e se
encantam com o Senhor. Olham as pessoas e sentem-se ungidos. Olham os lírios e
se encantam consigo mesmos, por verem os lírios.
O homem se lembrou do caminho de Emaús. Os fatos já são uma resposta. As
indagações nos levam ao processo dos fatos. Dois homens caminharam com Jesus.
Tristeza demais ou alegria em abundância ofuscam a luz, enfraquecem a visão.
O homem ficou maravilhado com a
programação. Todos ali se abraçavam e ele tendo os braços abertos não pôde
abraçar. Eles estavam felizes com o evento. Deus tinha abençoado, ninguém errou
a música, nem o discurso.
A plateia aplaudiu.
Ninguém se converteu.
O homem já se afastava quando a moça
lhe puxou o braço. Clamou uma volta e revelou que não sabia cantar nem tocar e
que a sua vontade era a de se parecer com Jesus, que assim ela pregaria sem
palavras. O homem sorriu e afagou a nova convertida. Alguém começou a tocar e a
moça se dispôs a dançar os louvores, se dispersando da presença do homem.
– Pai, perdoa-os. Eles não sabem o que fazem! – Disse, estendendo as mãos
para os céus.
O homem sorriu.
“Os homens sabem muito de mim e do
meu Pai, mas não me reconhecem quando estou no meio deles”.
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