quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O TEMPO DESCALÇO



            Pensava no rosto dela com os cabelos ofuscando o olhar. Sentada na parte alta do salão, seu rosto exercia movimentos suaves, assumindo várias direções, protegendo livros e crianças. Os livros sobre as mesas, espalhando em ambos lembranças literárias. Adolescentes sorriam, sorriam e falavam alto. As palavras eram despejadas com ansiedades e risos. As crianças agitavam-se, desejando tocar os livros.
Ela levantou-se e com um sorriso, caminhou entre cadeiras e tapetes. Após olhar a sua volta, se escondeu atrás de um livro. O chão vazio. Chão branco. Convidando pés descalços. Após observá-la, tirou ele os sapatos e também se refugiou num livro. O chão limpo, branco. Feito ruas: tapetes, mesas e cadeiras preenchiam parte da sala. O rapaz levantou novamente os olhos, a mesa repleta de histórias. Seu olhar ultrapassou os livros, ela lia para um menino.
O rapaz carregado-de-tempo encontrou seus livros de infância. Mergulhou nas lembranças. O livro não apenas estimulara a imaginação, levou-o ao tempos-menino. Abriu um, depois outro e depois outro. A história não estava somente grafada nos livros, o livro estava escrito na sua história. “Ser menino no tempo adulto é bem melhor que ser adulto nos tempos de menino”, pensou.
Ele afastou com os pés os sapatos e, como as crianças, sentou-se no chão. Limpo, o chão branco, convidando sentar. Observou os adolescentes. As crianças em silêncio, mergulhadas nos livros. Ela sentou-se ao lado do rapaz. Os cabelos cobriam parte do rosto, mas não escondiam o seu sorriso. Os lábios desenhados de batom nunca visto, realçava sua boca. Após ouvir o que ela tinha para ler, o rapaz sorriu.
A tarde caminhou entre eles conectando gerações. Sentaram em uma semi- elevação do piso, observando crianças e livros. O chão limpo. Branco o chão, convidando pés descalços. Ela tirou os sapatos. Ele observou os pés dela tocando o chão limpo com delicadeza feminina.