quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O HOMEM DE KRIPTONITA.



           
Ele não era de Marte, também não era da Lua, falando, parecia homem que veio de Kriptonita. As pessoas não se moviam. Os ventos paravam para não cobrir sua fala com ruídos. Acho que até os ruídos se roíam de medo com receio de ser repreendidos. O instante da fala era do seu domínio. As horas que não tinha nada com isso, continuavam marchando e de segundo em segundo alongava o tempo. O despreparo de quem é absoluto é um desespero para quem escuta coisas coisadas. Há alegria em quem dita para o outro, deveres.
Sempre estamos ocupando o tempo do outro. Quando alguma pessoa não toma o nosso tempo, consumimos o tempo de alguém. Nos Chats, gastamos longos minutos conversando com alguém cujo peso da presença física não resistiria mais que alguns minutos. 
Ali havia pessoas que cruzaram fronteiras para ver um homem que falava como um ser raro, mas que não atravessariam a rua para ouvir um homem que veio da terra. O homem que veio da terra, humano, conhecia a dor de um viver diário.

Os instantes ali eram de um tempo buscado, então, permitido. Se repito a palavra “tempo” é porque as coisas coisadas  dizem respeito à preparação. Coisas coisadas para mim quer dizer: você fala de um assunto velho usando uma inspiração nova, mas para quem já viu e ouviu torna-se uma coisa coisada.
Sem querer vou seguindo o tudo e nesse tudo rendo-me ao tempo. Ele joga com as minhas emoções. As coisas que eu falo realmente são a minha verdade? Às vezes falamos tanto, mas nem sempre cremos em dez por cento dessas falas. Há o que vem pelo ouvir e, se não ouço com o coração certo, tendo a divagar, pois o ver transporta o pensar. Talvez eu busque sabedoria da Lua, ou tente encontrar comunhão em Marte. Talvez eu coloque os pés na terra, não como um homem que veio de Kriptonita, mas como varão que conhece a sua sina: vinte e quatro horas e uma porção de sentimentos, que sujeitos ao lugar, se afloram como jardins que se rega todo dia. Se não posso escolher meus sentimentos quero conviver com pessoas que não escavam a ira.
O homem foi assediado depois que terminou. Depois dos aplausos ele caminhou. Depois que caminhou, sentou-se como homem que veio de Kriptonita ao lado de um homem que veio da terra. Esse não tinha depois. Era homem de agora.
Cabelos brancos e fala de quem aprendeu com a vida, o homem que era da terra cumprimentou o homem que parecia vindo de Kriptonita. Por pouco tempo, pois uma multidão dos que não enxergam homem da terra veio ter com ele. Cabelos brancos entendia aquele momento. Do homem e do povo.
O homem da terra observava a multidão enquanto escutava seus pensamentos. Indagações... Questionamentos... Pessoas... O tempo... E, o homem que não falava como homem, mas como varão que veio de Kriptonita.
Depois que o tempo se foi, foram também as pessoas. Ficaram dentro daquele salão dois homens. A sofisticação e a simplicidade. O ego fitou a humildade com o orgulho de quem sabe que é preciso ser humilde para reconhecer o ego. Depois dos aplausos sempre chega o vazio de se estar sozinho. Para o homem da terra havia paz. A sabedoria reina depois do tempo para quem aprende nos caminhos como são os passos. Voar na euforia é fácil, difícil é pôr os pés na terra e encarar a si mesmo. Voltar para si mesmo exige mais que voltar, tem de se estar disposto a quebrar o orgulho.

Não sei se os Kriptonianos possuem egos e se, em defesa desse sentimento, mudam a verdade. Não sei nem se eles compreendem o amor.
De perto ele não amava ninguém além de si mesmo. De longe, era alguém que impunha seus encantos. Caetano Veloso já afirmara: “De perto ninguém é normal”. Como homem que tinha traços de Kriptonita, sua missão era mais importante do que a vida, do que a natureza... Mais até que os humanos. Não era alto e nem baixo. Tinha o nariz um pouco curvado, se vestia bem e usava sapatos internacionais. O rosto? Sem barbas, a pele bem tratada e sobrancelhas feitas em salão. Havia uma pequena cicatriz logo abaixo do nariz que se escondia ao dar lugar a um sorriso. Um riso de quem ri com dor se confundia com o olhar de quem se esqueceu de ser feliz.
O homem da terra compreendeu o sentido de algumas palavras publicadas na internet: Não é preciso ser, basta parecer”. Ele aprendeu que sendo é melhor que parecer, ainda que não tenha uma multidão sob os seus pés.
O homem que era da terra, mas que falava como homem que veio de Kriptonita, também tinha sentimentos, e vivia como todos os homens, à mercê da dor de ser Humano.

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