sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

MUITOS SILÊNCIOS.



Depois que o meu amigo se afastou questionei os meus silêncios. É bem melhor ficar com a sensação de que não foi dito tudo, que ter falado tudo e falado demais. Outra impressão é a de ter ouvido. Do tanto ouvido, será que ouvi o que era certo? Diálogos, silêncios e sensações. Como levar do outro um pouco do seu tempo, em forma do saber, depois de uma boa conversa? Eu volto para os muitos silêncios. Eles se dividem em meditações. Do tudo que busco, busco encontrar comigo num lugar onde o perto está distante. Encontro palavras arranhadas, mas que não interferem em meus silêncios, nem nos barulhos que a minha alma faz quando perguntas não são levadas a sério. As perguntas são tantas. Elas são como as águas dos rios, não se enxerga o fundo sem antes cavar os seus mistérios.
Jesus se calou diante de Pilatos. Não por medo. Porque sabia que não se interrompe a oração do silêncio para instruir um tolo. Num tempo de muitas falas, muitos entendem o que acham, falta o silêncio para a compreensão deles. Em cada nossa palavra dita, vai um pouco do “nós” incompreendido na interpretação. Há uma profissão: perito em leitura labial. Mas ainda não ouvi perito em silêncios. No intervalo de uma nota à outra, uma melodia para ser complexa, tem de valorizar o silêncio. Quem o escuta aprende a ouvir a si mesmo. Rubem Alves, na sua crônica “Escutatória”, propõe que se ouça mais e fale menos. A força de um silêncio, amigo, não se compara. Ele está entre as falas, no pensamento, mas precisamente na sabedoria de poder usá-lo, como Jesus usou. Depois que o dia termina, eu volto para os meus silêncios. Eles me colocam com brandura diante de uma sociedade sem ternura. E se a gente seguir o tempo, e não mudar os amigos, não mudar os sonhos, não perder a nossa essência, com certeza terá valido a pena, pois, é em silêncio que a nossa existência busca a felicidade, em todas as estações.

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