sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O OUTRO LADO DA TV.


Com um discurso mais sem graça que brasileiro deportado do México, um jovem na TV explicou o amor. É difícil falar do que entendemos, imaginem ter que explicar o que não sabemos? Alguém tem que perguntar, alguém tem que responder, alguém tem que ouvir, essa é a pior parte. A apresentadora ajeitou os cabelos que não se mexiam nem sob a força do furacão Sandy. Checou os botões da blusa vermelha, respirou, olhou para o jovem artista e, voltando à câmera, disparou:
— Pra você, o que é o amor?
O jovem cruzou as pernas. Com dificuldades, pois, a calça que usava era mais apertada que mensalidade de pobre. Acho que é por isso que um artista demora para subir num palco. Demora-se mais vestindo a calça que escolhendo o repertório.
— Bem, digamos, vamos dizer que o amor se compara... Compara com... O amor é algo assim... Digamos – estalou os dedos quatro vezes – vamos dizer que se parece com algo que voa, digamos que uma águia no céu, digamos que ela tá procurando um lugar para pousar e encontra esse lugar. É isso! – Disse o entrevistado. A plateia aplaudiu. Ele era o cara, sabia expor as suas ideias. Um cantor menino, romântico, sabia o que era o amor.
— Bonita essa sua colocação. Gostei! Muito inteligente a sua resposta. – Disse a apresentadora, maravilhada com a presença do rapaz. A plateia aplaudiu mais forte que da primeira vez. A fama se parece com um adesivo de outdoor. Basta grudar e a estética muda. A pessoa fica bonita, se destaca. O maxilar do Cabo Man descaiu. A pergunta foi sobre o “que é” e não com “o que” se compara o amor. Com alguns anos de profissão e há cinco trabalhando naquela TV, e nos dois anos que assistia naquele programa já tinha visto todas as inteligências que passaram por ali.
O cantor não respondeu nada de todas as perguntas feitas ao longo do programa. Por um instante, enquanto ouvia o resto da entrevista, pensou nas redes sociais e cogitou ficar uma semana sem ler as postagens no Twitter e no Facebook. Porque a apresentadora o achava inteligente, seria postado e compartilhado às massas o que o jovem cantor pensava do amor. Daria tanto ibope que Platão ressuscitaria para ver se a tal resposta entraria no seu banquete. As perguntas feitas e as respostas dadas tinham efeito matemático no entendimento das pessoas: 1+1= 2- 2= 0 – Pensou o assistente. Um Cabo Man que amava a mitologia grega. Tinha graduação em física, cantava bem, tocava vários instrumentos, tinha ao seu redor grandes músicos que completavam a sua banda. Trabalhava na TV, mas, não tinha fama.

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