FOTO DE REPRODUÇÃO
Ruas velhas, lembranças novas.
—!
Há dias em que tudo se parece. Não se acha o que se busca e os olhos
encontram coisas que passam apressadas, depressa demais para se ter um
reconhecimento qualquer.
—?!...
Janelas que se abrem no alto, pés que tocam o chão ruborizado de um
cotidiano sem rumo. Um homem na calçada tece a arte, o que caminha pela calçada
tece a vida, desconectada do mundo. Ambos se procuram.
O vento agita as árvores, os pensamentos agitam o homem. A existência
agita o homem que se parece com a árvore. Fixos, se movem com os fenômenos da
vida. Díspares, necessitam da terra. Carecem do ar e dos ventos. Não os ventos
que arrastam coisas, mas um vento brando que parece sem rumo, porém, faz da sua
missão a direção.
E se o agora começasse agora? E agora mesmo a surpresa me surpreendesse?
O ontem não seria mais ontem. As emoções amanhecidas seriam novas; as pessoas
conhecidas seriam novas, as desconhecidas também.
— ...
Se o agora começasse agora eu seria de qualquer jeito. Ainda tenho dores
do ontem. Dores lembradas. Cheias de floreios emancipados. Se o agora começasse
agora, agora mesmo me buscaria. Repreendia-me. Articulando com fala de monges.
— Meus gritos são baixos.
—?!
— Altas são as minhas indagações insurgentes.
—?
— Tenho tantos gritos. Eles se embrenham por caminhos que convencem os
olhos a arrastar os pés, indignados.
—...
As ruas são velhas, o meu caminhar é novo. Nas vitrines, novidades.
Novidades também no pensar. Observo dois livros, mas só posso comprar um.
Dentro de mim há dois diálogos. Um se expressa com palavras curtas. — An?! Sim!
É? Hum... — Deixo os livros e compro um celular: as possibilidades machucam,
mas são ótimas para resolver problemas.
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