Os acordes são simples, a melodia poderosa. Da letra importa apenas
aquela parte que fala do tempo, quando nos escondíamos um no outro e não
pensávamos no tempo. “Guarde um pedacinho
de você... pra lembrar de mim a vida inteira...” Esse é um recorte da
canção que movia os nossos momentos. São essas palavras que vejo escritas
naquela fotografia que ela, naquela tarde de inverno, guardou no bolso do meu
casaco. O casaco era grande, vestia nós dois, de uma só vez. E foi isso que
fizemos. Ela enfiou o braço direito e eu vesti o braço esquerdo. Foi engraçado
caminhar abraçados vestindo o mesmo blusão. No começo, os nossos passos se
estranhavam, depois encontramos o ritmo certo e caminhamos sem tropeços. A vida
a dois nem sempre é como as canções, mas chega um momento em que, pelo querer,
aprendemos o ritmo, criamos a harmonia e desfrutamos da melodia do outro.
Da minha janela vejo o trem passando. Já faz anos, mas a cena é nova, a
visão é nova e, no entanto, pareço estar no mesmo lugar, mas movendo os passos
dentro de mim. Em cima da TV há um relógio digital; nele conto o tempo
passando. Na TV, um programa reporta músicas antigas. Michael Sullivan segura
um violão, Paulo Massadas rabisca os dedos em um teclado enquanto Rosana canta.
Custe o que custar é mais que uma
canção. No meu colo, ela dorme como na segunda noite do nosso casamento. Nossos
corpos não são mais leves. Os seus lábios, distraídos, parecem soprar-me os
recortes da melhor canção.
Lindo Nill!! Parabens!!
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