sábado, 15 de novembro de 2014

MEU PRIMEIRO QUADRO


Os olhos como faróis, atentos aos meus movimentos. As expressões em seus rostos apontavam o efeito de “primeira vez”. A insegurança, o falar embaraçado semelhante às emoções de quem está apaixonado e a escrita desalinhada eram tudo em mim. Gastei dias me preparando para estar ali e quando esse fato ocorreu num segundo se apagou. Os olhares, feito luz que acompanha um ator num teatro, me seguiam, acho que me viam por dentro tamanha a observação. O começo dói. Começar o começo é dor maior ainda. Um olhar de paciência se distinguia ao meio dos faróis atentos. Quando me perdia na fala, aquele olhar me indicava uma direção. A professora me ensinava sem usar as palavras. Por dentro eu gritava com as horas para que elas passassem de repente, mas em vão. Meus olhos me dissolviam olhando o quadro em branco. O nervosismo tinha um apagador e a precisão tinha um pincel nas mãos. O compromisso exigia que as mãos escrevessem o que a cabeça não guardou. Há momentos em que a gente sorri porque chorar é a mesma coisa. Os sentimentos se equivalem. Os alunos não me deixaram receoso, nem a professora me deixou acanhado. O meu medo era de um quadro em branco, ameaçando a primeira aula de um professor. 
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