domingo, 7 de fevereiro de 2021

PANDEMIA EM TEMPO DE LEITURAS

 


 

Depois de um tanto faz escrachado nos meus aborrecimentos, só restou sentar-me na varanda e junto com o meu cachorro, olhamos a chuva cair.

Eu tinha nas mãos um livro que falava do tempo.

Meu cachorro parecia tentar compreender cada gota que escapulia da beira do telhado. Pensei: É... a pandemia está me fazendo perceber o que há tempo deixei de fazer. Sentar num momento de chuva forte, na varanda da casa, com o meu cachorro, até faço com frequência, mas sentir a chuva derramar sobre o meu vazio um pouco de poesia molhada, isso deixei.

Meus dias ocupados demais agora deram lugar a uma calma estranha, um estar que machuca, um falta que “dói distâncias”.

Olho as flores. Elas sorriem com a chuva e dançam com o vento. As flores bailam. Acho que a dança é uma forma de louvor pela chuva que as tocam, abraçam e as beijam. Acho que o dançar delas é uma forma de aleluia por saber que as nuvens utilizam a chuva como mãos para tocá-las.

Eu agora escrevo.

E volto num antes que eu fui.

Escrevo usando caneta e papel. Dei um descanso para o Notebook. A TV me enoja e..., cansei dos filmes. Também não quero notícias que de tão “dizidas” soam como se não fossem passar.

Mas passará.

A chuva cai, meu cachorro me olha e sorri com a cauda. Retribuo com um afago em seu pescoço.

Volto para minha folha de papel.

Volto para minha caneta.

Volto até a minha primeira série: quando a professora segurou a minha mão e me ensinou a fazer a letra A, “na folha de um caderno”.

Com gosto de primeira série, segurando a caneta – como se fosse o lápis que a professora apontou tantas vezes – eu encaro uma folha em branco.

Devido ao isolamento por causa da Pandemia, as palavras saem amargas.

Tento amenizá-las com uma dose de “poética” e sinto o gosto da primeira alegria quando uma professora me ensinou a desenhar as letras.

A folha em branco dá lugar a uma conversa.

A caneta é quem media a conversa, assim como as nuvens usam a chuva para mediar o diálogo que faz as flores sorrirem.

Em tempo de Pandemia, que o isolamento não me escureça por dentro. Quero ver o sorriso do meu cachorro enquanto a chuva cai, quero pensar na quantidade de pessoas vou poder abraçar: quando a tempestade passar.

 



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