Depois
de um tanto faz escrachado nos meus aborrecimentos, só restou sentar-me na
varanda e junto com o meu cachorro, olhamos a chuva cair.
Eu
tinha nas mãos um livro que falava do tempo.
Meu
cachorro parecia tentar compreender cada gota que escapulia da beira do
telhado. Pensei: É... a pandemia está me fazendo perceber o que há tempo deixei
de fazer. Sentar num momento de chuva forte, na varanda da casa, com o meu
cachorro, até faço com frequência, mas sentir a chuva derramar sobre o meu
vazio um pouco de poesia molhada, isso deixei.
Meus
dias ocupados demais agora deram lugar a uma calma estranha, um estar que
machuca, um falta que “dói distâncias”.
Olho
as flores. Elas sorriem com a chuva e dançam com o vento. As flores bailam.
Acho que a dança é uma forma de louvor pela chuva que as tocam, abraçam e as
beijam. Acho que o dançar delas é uma forma de aleluia por saber que as nuvens
utilizam a chuva como mãos para tocá-las.
Eu
agora escrevo.
E
volto num antes que eu fui.
Escrevo
usando caneta e papel. Dei um descanso para o Notebook. A TV me enoja e...,
cansei dos filmes. Também não quero notícias que de tão “dizidas” soam como se
não fossem passar.
Mas
passará.
A
chuva cai, meu cachorro me olha e sorri com a cauda. Retribuo com um afago em
seu pescoço.
Volto
para minha folha de papel.
Volto
para minha caneta.
Volto
até a minha primeira série: quando a professora segurou a minha mão e me
ensinou a fazer a letra A, “na folha de um caderno”.
Com
gosto de primeira série, segurando a caneta – como se fosse o lápis que a professora
apontou tantas vezes – eu encaro uma folha em branco.
Devido
ao isolamento por causa da Pandemia, as palavras saem amargas.
Tento
amenizá-las com uma dose de “poética” e sinto o gosto da primeira alegria
quando uma professora me ensinou a desenhar as letras.
A
folha em branco dá lugar a uma conversa.
A
caneta é quem media a conversa, assim como as nuvens usam a chuva para mediar o
diálogo que faz as flores sorrirem.
Em
tempo de Pandemia, que o isolamento não me escureça por dentro. Quero ver o
sorriso do meu cachorro enquanto a chuva cai, quero pensar na quantidade de
pessoas vou poder abraçar: quando a tempestade passar.
Palavras escorregadas pelo telhado cerebral.
ResponderExcluirrssss
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